SOBRE A CISÃO DO GRUPO KRISIS

Declaração de anteriores membros da redacção e do círculo de apoio

A revista teórica KRISIS, tornada conhecida na Alemanha e a nível internacional pelo seu princípio da crítica do valor, tomou o caminho da esquerda: cindiu-se. Contra a vontade da maioria da redacção e do círculo coordenador, Robert Kurz e Roswitha Scholz foram excluídos e em consequência a maioria da redacção com eles. Tal putsch só foi possível através da instrumentalização da há muito passiva associação, que formal e juridicamente é a editora da revista. Dois em cada três membros da Direcção, há muito considerados honorários e à margem do debate teórico, deixaram-se instrumentalizar como marionetas da minoria da redacção, não se importando com o círculo de apoio activo. Também na Assembleia Geral que se seguiu, apresentaram-se contra a maioria dos presentes, com mandatos em branco de pessoas que não apareceram; uma obra de mestre do maquiavelismo associativo alemão, é preciso reconhecê-lo sem inveja.

Este procedimento foi justificado invocando expressamente o teórico do direito nazi Carl Schmitt, com a absurda construcção de um "estado de emergência" alegadamente causado por Robert Kurz e Roswitha Scholz, que, de acordo com um padrão de estratégia policial, se teriam tornado personalidades patológicas. A maioria da redacção, que via as coisas de outra maneira e se opôs ao "solícito brio da expulsão" foi nesta questão considerada irresponsável, visto que "suspeita de cúmplice com eles".

Neste conflito os níveis do relacionamento e do conteúdo entrelaçam-se indissoluvelmente um no outro. No plano das relações, desempenham um papel as ambições pessoais, sentimentos de concorrência e problemas de autoridade, relativamente a um membro demasiado produtivo do próprio grupo, do qual uma pessoa, imaginando-se a si mesmo como "nabo" (tal foi o auto-atestado apresentado) e àquele como guru, só se pode defender praticando "parricídio". Só mesmo nos meios que se acham de esquerda poderia vir à ideia (des)compreender como acto emancipatório uma constelação de tal modo clássica e especificamente ocidental.

A raiz deste conflito está onde se baseiam os problemas de relacionamento e de conteúdo: na relação entre os sexos. Tal como a teoria da dissociação permaneceu nos últimos doze anos um corpo estranho na crítica do valor da Krisis, do mesmo modo a sua autora Roswitha Scholz como pessoa tem sido um contratempo para a equipa de homens da Krisis. Não é por acaso, antes um efeito colateral plenamente querido, o facto de a redacção da Krisis estar mais uma vez sem mulheres, após um interregno de apenas um ano. E também não perdoaram (eles) ao Robert Kurz ter apoiado este princípio, que pôs em causa o objectivismo lógico-dedutivo do velho desenvolvimento teórico da Krisis.

Este conflito quanto aos conteúdos, há muito em lume brando, agudizou-se na formulação de uma crítica radical da filosofia burguesa do iluminismo, tal como foi desenvolvida por Robert Kurz na discussão com os anti-alemães. A superficial comunidade da linha da frente pôde equivocar-se por um momento quanto ao diferendo existente relativamente à crítica da forma do sujeito ocidental masculino e branco. Esse diferendo pode agora ser revelado: desejavam uma crítica do iluminismo "mais simpática", para salvar momentos do universalismo androcêntrico.

Se esta motivação inclui uma certa compatibilidade com a ideologia de base "pró-ocidental" dos anti-alemães, comporta-se precisamente ao contrário na discussão sobre a importância do anti-semitismo como ideologia de crise. O balizamento dos aspectos correctos dos anti-alemães defronta-se aqui com uma tendência para inocentar objectivamente o sindroma anti-semita. Também neste aspecto, a campanha superficialmente comum contra o belicismo apenas encobre um diferendo mais profundo.

Os referidos conflitos quanto ao conteúdo não estavam de modo nenhum amadurecidos e poderiam até certa medida ter sido resolvidos no quadro da Krisis. O que foi inviabilizado com a sua transformação em problemas de relacionamento e com a respectiva "solução" administrativa. O que resta é o cada qual por si, a partir de agora também em distintas plataformas organizativas:

A anterior maioria da redacção, incluindo Roswitha Scholz e Robert Kurz, juntamente com parte do círculo de apoio à Krisis activo, vai pôr em marcha outro projecto de crítica do valor e uma nova revista teórica com diferente posicionamento da acentuação. Assim, serão sacudidas as últimas cascas de ovo do objectivismo lógico-dedutivo da anterior teoria da "Krisis" e será promovida a crítica da forma do sujeito ocidental masculino e branco; precisamente no tempo de uma ideologia de "hurra!" pró-ocidental que vai até ao interior da esquerda. Sobre a ulterior fundamentação teórica duma crítica do "trabalho abstracto" como substância da relação do capital queremos nós oferecer aos movimentos sociais nascentes uma referência crítico-solidária que lhes sirva, em vez do modelo de pensamento "populista de esquerda" e anti-semita.

Apelamos a todas e todos que dentro e fora da Krisis simpatizem com este propósito para nos ajudarem em conformidade.

11 de Abril de 2004

Hanns von Bosse, Petra Haarmann, Brigitte Hausinger, Claus Peter Ortlieb

 

DECLARAÇÃO DE APOIO

Os editores desta página do Grupo Krisis em português (http://obeco.planetaclix.pt/) respondem sim sem hesitação ao apelo da Petra, da Brigitte, do Hanns e do Claus.

Desde já manifestam o seu apoio e se propõem colaborar com a nova Revista que, com a participação de Roswitha Scholz e Robert Kurz (cuja presença é incontornável; basta ver os textos desta página), possa desenvolver a crítica do valor, aprofundando a crítica da dissociação sexual e do sujeito do iluminismo.

A "nova contemporaneidade histórica" que vivemos faz deste um projecto aliciante para todas as mulheres e homens que hoje não desistiram de produzir as suas vidas no planeta Terra.

Lisboa, 12 de Abril de 2004

Os editores

Azar o deles!

No exato momento em que tinha acabado de reler o último artigo de Kurz sobre a 'educação fantasma' e pensava na suprema maravilha que é  existir nos dias de hoje uma mente tão lúcida e revolucionária como ele, abro o email e leio a notícia da cisão do grupo Krisis! Azar dos que ficaram para trás. Kurz e Roswitha são os melhores. A crítica ao Iluminismo como propõe Kurz  é devastadora. Estou lendo (devagar) o artigo da 'tábula rasa". É de tîrar o folego tamanha a dialética, profundidade e consistência. Quanto à teoria da dissociação de Roswitha, é de tirar o folêgo, tamanha a dialética, profundidade e consistência. Tenho dito.      Dia destes, num email para o físico Marcelo Gleiser, escrevi:  "Como levar a sério, por exemplo,  um cientista social ou filósofo que não discute Adorno ou desconhece as idéias do melhor pensador do grupo marxista alemão Krisis, o sociólogo Robert Kurz?  Hoje, o que dá conta da realidade é a critica radical do sistema mundial produtor de mercadorias tal como é proposta por Kurz e seu grupo.  Robert Kurz, uma inteligência à frente de seu tempo, já está filosoficamente discutindo a superação do Iluminismo, há quase 20 anos! Não dá para ignorar. Penso que o mesmo se pode dizer das teorias de Zecharia Sitchin. Afinal, já estamos colonizando Marte e não temos qualquer explicação de "como os sumérios poderiam afirmar que Netuno existia sem poderosos telescópios"?   Vida longa a Robert Kurz e Roswitha Scholz !  

Mírian Macedo  

Brasil, 13 de Abril de 2004

Declaración de Contracorriente:

Los lectores de Krisis conocen muy bien las aportaciones teóricas tan fundamentales, variadas y numerosas que sobre todo Robert Kurz ha hecho en su crítica radical al sistema capitalista productor de mercancías.

Todas las categorías del capitalismo fueron "desfetichizadas" por Kurz de forma minuciosa, cabal y profunda. Por fin teníamos el retrato monstruosamente auténtico y al día del capitalismo en su fase agónica.

En su ajuste de cuentas con el pasado, hace meses Kurz dirigió la crítica radical contra el Iluminismo. Era una tarea ineludible: atreverse a hacer la crítica radical a la ideología fundamentalista del capitalismo.

Ahí está "Tabla rasa", otra obra maestra de Kurz poniendo al Iluminismo en la picota de la crítica radical.

Queremos expresar públicamente nuestro apoyo consecuente a Robert Kurz, Roswitha Scholz, Hanns von Bosse, Petra Haarmann, Brigitte Hausinger y Claus Peter Ortlieb y nuestra decisión de seguir activos en las traducciones y todas las tareas que podamos hacer.

16 de abril de 2004

Contracorriente

Original alemão disponível em www.exit-online.org

http://obeco.planetaclix.pt/