Crítica categorial e a necessária questão das alternativas ao capitalismo (1)

 

Thomas Meyer

                         

 

                1. Posição inicial: crise e crítica * 2. Os limites do protesto * 3. A crítica necessária e os seus pressupostos * 4. O "querido" dinheiro e a falsa imediatidade de diversas "alternativas" * 5. Riqueza material versus riqueza abstracta – Sobre a crítica do crescimento * 6. A dialéctica natureza-sociedade * 7. Observações finais * Bibliografia

 

                         

                1. Posição inicial: crise e crítica

Quanto mais a crise progride, menos partes da esquerda – para não mencionar outros contextos – parecem ser capazes de tomar nota do limite interno do capital e do alcance da crise, que se tem vindo a agravar cada vez mais desde 2008. O recalcamento, a negação ou o apego a identidades anacrónicas etc. aparecem como pano de fundo. Mais ainda, torna-se claro que não poucos se oferecem como oportunistas disponíveis aos regimes administração da crise (Green New Deal, por exemplo: cf. Konicz 2020a). Hoje, mais do que nunca, é necessário formular e pôr em marcha uma emancipação social contra as categorias reais do sistema capitalista (valor, dissociação, trabalho, Estado etc.). A crítica teórica é chamada a ter uma visão de pássaro dos protestos sociais, uma distância crítica, não para se fechar na torre de marfim dos conceitos, mas para pôr fim à presente transformação e destruição capitalista do mundo. A crítica teórica procuraria segurar um espelho à frente dos protestos sociais existentes a fim de "cantar-lhes a sua própria melodia". (Marx 1958, 381). Com este objectivo devem ser alargados os limites desses protestos na forma da mercadoria e da dissociação, bem como a necessária exigência de satisfação das necessidades sociais e materiais contra a sua "financeirização", especialmente porque esta está a atingir cada vez mais os seus limites. Pois: "Sem ter passado pelo purgatório de uma crítica radical ao capitalismo [...], não será possível 'pensar' e certamente não será possível 'fazer' alternativas" (Böttcher 2015, 129). Todas as chamadas alternativas ao capitalismo devem ser medidas pela sua capacidade de formular o horizonte do problema neste texto referido. Se olharmos para as putativas alternativas, tais como o movimento pós-crescimento e o movimento commons (cf. Meyer 2021) ou a economia do bem comum de Christian Felber (cf. Kloos 2018; cf. também Hüller 2014), infelizmente não há de facto nada que se veja nesse sentido.

                         

                2. Os limites do protesto

No caso de protestos contra a "loucura da renda" ou contra a "crise dos cuidados", é natural demonstrar solidariedade, embora isto não exclua penetrá-los em termos de crítica da ideologia e negar-lhes qualquer solidariedade, se eles se virarem para culpar "Bill Gates" ou "os Rothschilds" pelas catástrofes sociais. Noutros casos, a solidariedade é à partida muito mais difícil: por exemplo, as exigências de poder reproduzir-se (mantendo-se ou melhorando) sob a forma capitalista podem ter consequências problemáticas quando os trabalhadores protestam contra o encerramento de uma fábrica de automóveis ou quando os sindicatos se pronunciam a favor da destruição ambiental, porque isso prometeria ou garantiria "empregos". O debate formulado nos últimos anos para levar novamente a sério os interesses da "classe trabalhadora" no quadro de uma "nova política de classe" (cf. Scholz 2020; cf. também Meyer 2019) é assim à partida inconsistente, se se afirmar simultaneamente que se critica a destruição ambiental.

Isto já indica uma ambivalência inevitável: por um lado, a crítica social deve ser praticamente (ainda) exigida sob formas burguesas (salário mínimo, direitos dos trabalhadores, seguros sociais etc.). Por outro lado, estas formas estão obsoletas e as necessidades sociais (alimentação, habitação etc.) cada vez menos podem ser afirmadas nelas, e mesmo isso apenas sob restrições absurdas e "compensações" de todo o tipo. Já deveria ser óbvio que, perante a catástrofe climática, desenvolvimentos fascistóides, Estados falhados etc., uma redistribuição da "riqueza" produzida pelo capitalismo e o reconhecimento democrático das pessoas como sujeitos burgueses da concorrência não só são de muito curto alcance, como também dispõem imanentemente de uma "margem de manobra para a acção e configuração" cada vez mais reduzida, tendendo a tornar-se irrelevantes. As lutas imanentes, na medida em que ocorrem, ameaçam colapsar na crise para um modo sem perspectivas de "lidar com a crise" e de co-administração da crise.

A seguir, serão apresentadas algumas ideias básicas de uma crítica teórica da práxis. Ao fazê-lo, basear-me-ei principalmente no conceito da matriz a priori de Robert Kurz. Além disso, abordarei a "contradição entre matéria e forma" (Ortlieb 2009), que também é evidente no processo de metabolismo com a natureza, em contraste com as visões bastante problemáticas do movimento pós-crescimento relativamente a uma contracção da economia, que parece necessária tendo em conta a catástrofe ecológica. O argumento central é: Face à catástrofe ecológica e climática, que está essencialmente relacionada com o consumo exorbitante da natureza, deve-se procurar um modo de vida que consuma menos (mais modéstia material, nenhum consumo compensatório, como o turismo de massas, produtos que sejam produzidos de forma a durarem o máximo de tempo possível etc.). A economia não só deve parar de crescer, mas também deve encolher. As soluções técnicas para isto são inexistentes devido ao efeito de ricochete: "Só os estilos de vida podem ser sustentáveis", conclui o economista Niko Paech (2019, 99, ênfase no original). E são precisamente esses estilos de vida que Paech vê acima de tudo nos circuitos económicos regionais, que supostamente se caracterizam pela "transparência" e justamente pela "empatia" (ibidem, 114).

                         

                3. A crítica necessária e os seus pressupostos

A discordância com o mundo tal como está constituído pode alimentar-se de muitos motivos diferentes. Um "desacordo" pode ser visto como resultado de uma certa "interpretação das condições" e/ou de uma certa experiência (de sofrimento) do sujeito. Se a crítica do capitalismo é alimentada por experiências de sofrimento, então estas mesmas experiências devem ser 'conceptualizadas' na medida do possível, ou seja, devem ser mediadas com a totalidade quebrada do capital, ou seja, com o todo social. Isto é o que torna uma experiência concreta. Perante uma crítica teoricamente pouco esclarecida da globalização, Robert Kurz escreveu: "Esta concretização com a ajuda da teoria inclui também o esclarecimento do processo histórico no contexto do qual as experiências se situam em primeiro lugar. As experiências no aqui e agora só podem dizer algo relacionando-as com as experiências do passado e com a historicidade da sociedade. A teoria também excede a imediatidade da experiência neste sentido, uma vez que contém o reflexo de experiências passadas e, portanto, tem a sua própria história. Aqueles que acreditam poder ignorar isto irão inevitavelmente interpretar mal as suas próprias experiências, porque não as conseguem colocar num contexto maior" (Kurz 2005, 30).

Assim as experiências nunca devem "ficar em si mesmas", mas devem ser esclarecidas como um momento da totalidade capitalista, caso contrário as experiências de sofrimento em particular podem ser condensadas ou distorcidas num culto da preocupação, que está frequentemente associado a uma fundamental hostilidade à teoria e incapacidade de reflexão. As supostas críticas que podem surgir de tal atitude podem então apenas expressar o desejo ou a ilusão de continuar a concorrência por outros meios ou de perseguir um capitalismo que alegadamente não traz consigo estas (especialmente as próprias) experiências de sofrimento (tal como as economias locais se devem caracterizar pela empatia e transparência). Ou pior: são identificados os sujeitos responsáveis por estas experiências de sofrimento (mulheres, migrantes, judeus, 'genderistas' etc.).

Contudo, a "interpretação das relações" não é de modo nenhum sem pressupostos, e o crítico ou a crítica não podem simplesmente "pensar sem mais" (cf. Kurz 2017, 73ss.). Pensamentos supostamente novos revelam-se muitas vezes pensados há muito tempo quando se olha para trás na história (cf. Ortlieb; Ulrich 2005). Embora o próprio pensamento não seja definido deterministicamente, de modo que o crítico ou a crítica apenas executassem formas de pensamento objectivas como um autómato, ninguém pode escapar completamente às formas de pensamento objectivas (valor, trabalho, relação de género burguesa). Contudo, as formas de pensamento objectivas não são apenas uma questão de pensamento – o que seria um mal-entendido 'idealista' – mas estão interligadas com as formas de existência objectivas do capitalismo (trabalho, dissociação sexual etc.). Os dois juntos, no seu emaranhado no processo histórico, resultam numa forma historicamente específica de transformação e modelação do mundo, que por sua vez tem um efeito sobre as formas objectivas de pensamento e os seus "portadores" subjectivos. Poder-se-ia chamar a isto "dialéctica" ou contradição em processo na sua concreção material e psicossocial. As formas objectivas de pensamento e de existência em conjunto formam a "matriz a priori da constituição fetichista" (Kurz 2007, 24, ênfase no original).

Se se faz do pensamento objectivo um objecto de crítica e já não se formula a crítica nestas categorias, mas contra elas, ou seja, se "se faz" crítica categorial, então as formas objectivas de existência, a forma de (re)produção e a sua realização material-organizativa e, portanto, também do processo de metabolismo com a natureza das mesmas estão longe de "abolidas" ou dominadas. Isto deve ser tido em conta quando se trata de considerar a "apropriação dos meios de produção" e a distribuição por conta própria, ou seja, contra o Estado e o mercado (ou contra o que resta deles) como o fim da linha. O que é decisivo é que as formas objectivas de existência e de pensamento sejam percebidas como um objecto a ser criticado em primeiro lugar. Se isto não acontecer, então a crítica torna-se rapidamente afirmativa, se não reaccionária, mesmo que saiba nomear os pontos certos a um nível fenomenológico (como é muito claro, por exemplo, com os economistas pós-crescimento).

A crítica afirmativa pode, por um lado, ter como objectivo melhorar a própria posição no capitalismo, ou pode estabelecer o objectivo de configurar o capitalismo de forma diferente ou modernizá-lo. Em ambos os casos se pressupõe uma certa "capacidade de configuração" imanente, e isto não significa outra coisa senão que o capitalismo ainda tem de ter uma certa capacidade de se desenvolver, de modo a que sejam concebíveis ou "seleccionáveis" várias opções, que poderiam então ser possivelmente "negociadas".

Por outro lado, as críticas afirmativas servem para afirmar os próprios interesses contra outros. Todos os tipos de lutas de negociação colectiva etc. caem nisto. Todos querem uma fatia maior do bolo, sem realmente questionar o próprio bolo e a forma como é produzido. Ou seja, aspectos individuais do capitalismo são (supostamente) criticados aqui, mas de tal modo que o capitalismo e as suas formas são cegamente pressupostos. Procuram-se melhorias nas formas capitalistas. As necessidades e interesses são pensados e exigidos nestas. Trata-se de conflitos de distribuição e de interesses dentro do contexto da forma capitalista, trata-se da afirmação de pontos de vista de interesses particulares. (2)

Deve notar-se que nenhum destes pontos de vista particulares pode afirmar ser de algum modo transcendente, ou seja, predestinado a conseguir rebentar o invólucro coercivo da forma do capitalismo através da sua posição no processo de valorização (ou desvalorização), ou, formulado de forma diferente: Os pontos de vista particulares dos sujeitos colectivos são tão pouco "revolucionários" como os pontos de vista (inevitavelmente particulares) dos sujeitos individuais. Os sujeitos colectivos movem-se sempre na dicotomia entre a cooperação no interior e a normal concorrência para o exterior. Uma vez que a primeira serve a segunda, o comportamento concorrencial pode transbordar a qualquer momento: desde a guerra civil dentro de "nações" até à paranóia do sujeito individual. O sujeito colectivo proletariado foi considerado como sendo a classe revolucionária chamada a abolir o capitalismo (ou o que era entendido por ele). No final, não passou de uma luta imanente pelo reconhecimento, uma oposição no interior do capitalismo, uma luta tendo como pressuposto as formas capitalistas como trabalho, valor, dissociação etc. O que era um escândalo para o marxismo do movimento operário era a retenção da mais-valia e de modo nenhum a forma de valor como tal, à qual o fenómeno da "mais-valia" inseparavelmente pertence. O próprio movimento operário contribuiu para a aplicação e generalização da produção de mercadorias e do trabalho. Com poucas excepções, o desenvolvimento industrial e técnico e a dominação da natureza foram defendidos ou considerados não problemáticos (cf. Schmied-Kowarzik 2018). O que foi visto como um problema foi a inexistência de poder de disposição do proletariado. O proletariado teria portanto de derrubar o Estado burguês e "aplicar" as "leis" capitalistas no seu interesse (cf. Kurz 2007, 43ss.; Kurz 1994, 79ss.). Foi assim que surgiu o "Estado proletário" e a "produção socialista de mercadorias", ou seja, o resultado foi o "socialismo do adjetivo" (Robert Kurz). (3)

Se se quiser fazer valer necessidades, especialmente as básicas, então isso tem de ser feito primeiro sob formas capitalistas. Quer se trate da procura de habitação a preços acessíveis, de cuidados médicos, de defesa do ambiente e do clima etc.. A política é dirigida a isto, e para a forçar a ceder, as pessoas organizam-se a si próprias. Como se pode ver repetidamente em numerosas regiões do mundo, tais protestos são geralmente ignorados, brutalmente espancados ou abatidos (como por exemplo em 2012 em Marikana, África do Sul, cf. Wildcat No. 94, 10ss.). Contudo, o facto de certas exigências começarem por ser feitas (necessariamente) na imanência não significa que tenham de permanecer imanentes. Como diz Robert Kurz: "Quando se está sob o ditame de uma constituição dominante e esta não pode ser imediatamente abolida, trata-se naturalmente de defender e exigir as necessidades vitais através destas formas sociais negativas. Mas exigir as necessidades necessariamente nestas formas não significa nem de longe ligar-se a elas, nem muito menos defender-se apenas nelas. Pelo contrário, é preciso tornar consciente a diferença qualitativa fundamental entre as necessidades materiais e sociais, por um lado, e a sua determinação pela forma dominante, por outro" (Kurz 2011, 118, ênfase TM). Mas se esta diferença não for percebida de todo, por exemplo, pelos trabalhadores e trabalhadoras assalariados/as que se identificam com a sua existência capitalista, ou "com a sua própria função no capitalismo e exigem aquilo que precisam apenas em nome dessa função, tornam-se eles próprios 'máscaras de carácter' (Marx) de um determinado componente do capital, nomeadamente a força de trabalho. Assim, eles reconhecem que apenas têm direito à vida se conseguirem produzir mais-valia" (Kurz 2013, 27, ênfase TM).

Qualquer medida ou ideia concebida encontra o seu limite na condição de financiamento: a negociação colectiva torna-se então uma co-configuração da própria precarização, as reformas tornam-se uma progressão de empobrecimento e dessolidarização, e nada resta da política a não ser uma criminosa associação de"agentes de execução" dos interesses empresariais (política fiscal, leis ambientais laxistas ou não, acordos de comércio livre etc.). A capacidade de acção do Estado está também ligada à sua capacidade de se financiar a si próprio. Se esta se deparar com limites, o Estado acaba por se asselvajar e desintegrar, deixando de ser essencialmente diferente de um aglomerado de gangues criminosos concorrentes (cf. Bedszent 2014). Se se estreitar o corredor das "possibilidades de configuração" imanentes, a crítica afirmativa torna-se irrelevante. Negociações colectivas ou similares em países em crise como a Grécia ou ainda mais em países como o Iraque não passariam de uma piada maliciosa. Uma interpretação destas catástrofes sociais de acordo com um esquema de esquerda tradicional falha de longe a realidade: "Característica do processo de crise não é uma possível consolidação de antagonismos de classe, mas a sua dissolução com a crise. O proletariado – ou, dito de uma forma um pouco mais ampla, os dependentes dos salários – não continua a aumentar, desaparece na crise da sociedade do trabalho, transformando-se primeiro em precariado e depois em exército de economicamente supérfluos [...]. Este processo de dissolução do trabalho assalariado está muito mais avançado na região árabe ou na região subsaariana. É preciso muita imaginação para querer interpretar as brutais guerras civis no Iraque, Síria, Somália ou Congo como formas de luta de classes. [...] Pois a burguesia da periferia [...] também foi vítima da dissolução provocada pela crise. Esta aniquilação das classes capitalistas pelo capital em amoque já está a espalhar-se na periferia sul da UE. Na Grécia, a crise atingiu a pequena burguesia com mais força do que o Partido Comunista Grego alguma vez sonhara, levando dezenas de milhares de capitalistas à bancarrota em poucos anos de crise. [...] Nas áreas anómicas em colapso já não existe uma 'classe dominante', mas um caleidoscópio de máfia em constante mutação [...] ou figuras de poder da economia de guerra, na sua maioria com uma regência muito curta" (Konicz 2020b, 346s.).

Se as opções de acção imanentes se tornarem inválidas, isto é, 'não financiáveis', então acaba por se aceitar a própria execução ou se exige – tanto em teoria como na prática – comida, habitação etc. independentemente de ser 'financiável' ou não, ou do sucesso com que alguém possa vender a sua 'força de trabalho'. O absurdo da chamada liberdade burguesa torna-se claro quando, por exemplo, o acesso aos alimentos é restringido, se necessário com cassetetes e gás lacrimogéneo, enquanto alimentos não vendidos são atirados ao lixo ou eliminados de outra maneira. A destruição dos alimentos apesar da fome foi exacerbada na pandemia de coronavírus (cf. Konicz 2021). O cúmulo da insolência é quando aqueles que praticamente tencionam opor-se à eliminação e apanhar do lixo pão não vendido são punidos pelo chamado "Estado de direito". Os limites da "liberdade burguesa" tornam-se igualmente claros quando a "democracia capaz de se defender" expulsa à pancada pessoas de apartamentos antes vazios. Obviamente, nenhum outro objectivo além do capitalista está previsto. Ao que parece isto também não é "negociável" no famoso sistema democrático, com o seu alegado "pluralismo". Assim, se a valorização do valor já não for bem sucedida, se a mais-valia não puder ser realizada, então nem mesmo à democracia ocorre a ideia de mobilizar e distribuir recursos e riqueza segundo outros critérios que não os capitalistas, em vez de os encerrar ou desbastar por falta de "rentabilidade" (cf. Kurz 1999a, 574ss.; cf. também Meyer 2020). Pelo contrário. A sociedade burguesa tem mostrado repetidamente que meios está disposta a tomar para salvar o capitalismo de um (presumido) perigo socialista (cf. Landa 2021). A "super-estrutura" do liberalismo político (sufrágio universal, parlamentarismo, liberdade de imprensa etc.) tem-se revelado repetidamente dispensável. Em caso de dúvida, os cães de fila estão prontos para defender a "ordem burguesa" a todo o custo. No estado de excepção se revela o núcleo da própria democracia burguesa. A chamada ordem básica democrática livre não pode, portanto, ser um baluarte eficaz contra o fascismo. Isto é deixado bem claro por um extremista de direita como o (ex-)presidente do Gabinete para a Protecção da Constituição (cf. Reuter 2019).

O discurso social teria de rebentar a imanência, não se permitindo que todas as opções de pensamento e acção fossem pré-determinadas de antemão pela "financeirização" e por algumas "concepções" ou "planos" loucos da política. Mas isto pressupõe que as formas objectivas de pensamento e de existência e os factos aparentemente evidentes que delas resultam sejam vistos como historicamente mutáveis e se tornem objecto de uma crítica radical. Não se trataria, portanto, de representar os "interesses dos assalariados" para fazer face a catástrofes sociais (cf. Scholz 2020; cf. também Meyer 2019). Tratar-se-ia de ultrapassar a própria existência capitalista e, portanto, também os chamados interesses, ou seja, a "actual forma de vontade burguesa tornada insuportável" (Kurz 2006, 397, ênfase no original), à qual uma pessoa , como trabalhador ou trabalhadora, tem de se conformar tanto quanto possível para poder "existir" nesta sociedade. Para isso, a questão social e ecológica teria de ser colocada para além do contexto da forma capitalista e dos conflitos de interesses internos ao capitalismo. É necessário insistir que todos têm direito material a cuidados médicos, habitação, alimentação etc., independentemente de quaisquer reservas financeiras que digam o que é possível e o que não é: "Mas a generalidade social de um 'interesse' que vai realmente para além do moderno sistema produtor de mercadorias seria em primeiro lugar apenas possível como um meta-interesse, ou seja, como o desenvolvimento de um interesse que vai para além do moderno sistema produtor de mercadorias, isto é, como o desenvolvimento de um interesse contra a própria forma capitalista de interesse; ou seja, de certo modo, o interesse em finalmente não ter de travar uma eterna "luta de interesses" imposta pela concorrência burguesa, o que só é possível através do rebentamento dos fundamentos da ordem social dominante" (Kurz 1999b, 71, ênfase TM). Por conseguinte, os limites da necessária capacidade de acção impostos pelos limites da coerção da valorização capitalista devem ser transcendidos. A questão não é, portanto, como financiar a protecção ambiental e climática ou as pensões. Nas palavras de Knut Hüller: "No estado actual das forças produtivas, têm de ser feitas perguntas completamente diferentes. Por exemplo, 'Queremos (precisamos) disto?'. Então: 'Temos os meios para o fazer?' e, além disso: 'Os seus efeitos secundários são justificáveis? Assim que as restrições capitalistas são eliminadas, abrem-se enormes liberdades que o capitalismo não pode de modo nenhum explorar. Em particular, seriam removidos todos os obstáculos puramente 'capitalistas' que impedem as pessoas de se envolverem em actividades significativas no interesse comum, simplesmente porque não há vantagem, chamada 'lucro', para um determinado sujeito" (Hüller 2015, 375, ênfase no original).

Por muito justificada que seja a crítica à prática existente e a todo o "fetichismo da acção" (cf. Böttcher 2019), permanece a necessidade de um questionamento prático e da abolição do capitalismo: "Com certeza que é impossível antecipar teoricamente um movimento social de emancipação. Mas é possível e necessário concretizar teórica e analiticamente as questões da superação da forma da mercadoria e desenvolver um debate público sobre o assunto. O foco teórico da crítica do valor tem de desenvolver a teoria crítica do fetichismo e da forma do valor, (4) mas não está obrigado a um silêncio absoluto na pura abstração relativamente à questão da superação, e tampouco necessita aguardar o movimento social de massas, como os cristãos escatológicos aguardam o dia do Juízo Final" (Kurz 1997, 105). No entanto, "seria muita ingenuidade presumir que um novo movimento social, sob os pressupostos da crise, começaria do zero com uma crítica radical do sistema produtor de mercadorias. Pelo contrário, é provável que uma tal perspectiva só possa ser mediada por um debate público e por discussões conceptuais em lutas e conflitos reais" (ibid., 95, ênfase no original).

 

4. O "querido" dinheiro e a falsa imediatidade de diversas "alternativas"

É crucial ter presente o invólucro coercivo da forma da socialização capitalista enquanto tal e exigir necessidades sociais e ecológicas contra ele. E isto sobretudo contra todo o tipo de medidas de austeridade que conduzem ao desbaste, por exemplo, dos cuidados médicos, contra as chamadas modernizações que visam reduzir os custos (por exemplo, digitalização) ou todo o tipo de pseudo-medidas burguesas para as alterações climáticas etc. No caso destas últimas, torna-se particularmente claro como as "medidas de protecção climática" são disparatadas e, a médio ou longo prazo, em consequência, assassinas, se forem tomadas na condição de uma maior valorização do valor (imposto sobre o CO2, possível eliminação do que quer que seja até talvez 2050 etc.). Este é "o axioma inviolável em todas as propostas para mudar o mundo. Deve-se fazer algo pelo ambiente, proclama-se, mas em nenhum caso com restrição da dominação do dinheiro, do poder de uma subjectividade louca para configurar lucrativamente todos os processos de mudança [...]". (Brodbeck 2012, 1124s., ênfase no original). O que tem de ser feito e o que pode ser feito com base nas possibilidades técnicas limita-se ao facto de que o capital individual possa ter lucro para si próprio e possivelmente criar ou manter empregos. O que está realmente em jogo (protecção ambiental e climática) torna-se assim uma questão menor. Nas palavras de Karl-Heinz Brodbeck: "Se isto deve ter algum efeito na redução dos danos ambientais, é necessariamente apenas um efeito secundário, porque só são possíveis soluções lucrativas no mundo dos constrangimentos. A quantidade de soluções técnicas rentáveis para prevenir o desastre ecológico é certamente muito menor do que a quantidade de soluções tecnicamente possíveis e ecologicamente necessárias. Deve-se portanto perguntar – mesmo alguém que pensa apenas em termos de soluções de mercado – se, do conjunto de soluções tecnicamente possíveis para travar a devastação planetária, eliminar a fome etc., aquele subconjunto delas que pode ser explorado de forma lucrativa é suficiente para inverter as tendências discerníveis" (ibid., 1125, ênfase no original).

Muitos contrariam certamente a afirmação de que existem limites ao que pode ser financiado, dizendo que, no contexto de numerosos pacotes de salvamento no decurso da crise de 2008 e seguintes e da crise do coronavírus, parece não existir um limite, ou este pode ser sempre adiado (como argumentado pela Teoria Monetária Moderna, por exemplo): Há dinheiro suficiente, só precisa de ser distribuído de modo diferente. Aqui se torna claro um entendimento reificado do dinheiro. A quantidade de dinheiro é equiparada, por exemplo, com a quantidade de batatas. As pessoas agem como se 100 euros fossem uma quantidade física análoga a 100 kg de batatas. Com dinheiro, 'tem-se' uma quantidade e pode-se dividi-la. Se a quantidade de dinheiro não for suficiente, o dinheiro é impresso como se se plantasse mais um campo com batatas. Além disso, a "financiabilidade" é equiparada a despesas materiais ou similares. Se algo não puder ser financiado, então presume-se que o esforço por isso não pode ser feito. É o que fica claro, por exemplo, em Rainer Fischbach: "Pois tudo o que a sociedade humana pode criar, também pode financiar" (Fischbach 2016, 205, ênfase no original). Só pode ser financiado aquilo para que estão disponíveis fundos de financiamento, o que significa que estes fundos de financiamento tiveram de ser previamente obtidos a partir de um processo de valorização. O que é financiado contribui então para uma maior valorização do capital (no que pode falhar devido à concorrência) ou "expira" no consumo. Torna-se claro que 100 euros não é o mesmo que 100 euros (inflação, flutuações de preços etc., cf. Kurz 1993, 140ss.). O capital é um processo fetichista, pelo que o dinheiro não pode ser fixado como uma quantidade física. Ou, nas palavras de Marx: "O dinheiro não é uma coisa, mas uma relação social. [...] Esta relação [é] apenas um único elo em toda a cadeia de relações económicas e como tal intimamente ligada a ela e [...] esta relação [corresponde] a um determinado modo de produção [...] em grau bastante idêntico ao da troca individual" (Marx 1990, 107). Se o financiamento se tornar cada vez mais precário, então pode ser esticado através do crédito. Ou melhora-se a capacidade de financiamento, reduzindo o financiamento. Com políticas de austeridade e os chamados programas de ajustamento estrutural, as despesas são reduzidas, na esperança de que o processo de valorização recomece "depois", de modo a que as infra-estruturas etc. possam ser novamente financiadas por impostos regulares. Perante falências de Estados, a inflação, as infra-estruturas degradadas, o aumento dos custos etc., o alongamento da capacidade financeira está a atingir os seus limites. As tentativas de restaurar ou melhorar a capacidade financeira são, assim, cada vez mais susceptíveis de não darem em nada, e de não terem outra consequência do que a vida nas categorias reais capitalistas se ir tornando cada vez mais impossível (especialmente porque a capacidade financeira humana implica a venda bem sucedida, ou seja, lucrativa, de força de trabalho). Isto significa apenas que a produção e o consumo estão limitados à sua contribuição para a realização de valor (D-M-D'). A fome e a simultânea destruição em massa dos alimentos são o resultado. Em vez de vários esquerdistas inventarem todo o tipo de concepções de financiamento alternativo ou, na sequência de "críticas pequeno-burguesas ao capitalismo", dinheiro alternativo (como dinheiro integral, dinheiro regional, cf. Hüller 2014; 2015, 308ss.), deveriam ser antes aconselhados a expor os desaforos e as consequências assassinas da condição de financiamento. Abaixo o sistema salarial (cf. Marx 1955, 77) deveria ser o slogan, e em nenhum caso "Em frente com o sistema salarial alternativo" ou disparates semelhantes.

O chamado dinheiro regional é um tema discutido nos círculos pós-crescimento (e também nos círculos commons e de outras "economias alternativas"). Não é a forma de dinheiro enquanto tal que deve ser abolida, mas aparentemente apenas o "dinheiro errado". Um tema frequente de crítica pequeno-burguesa ao capitalismo é a questão do "dinheiro certo", seja "dinheiro em redução" (de acordo com Gesell), "dinheiro de dívida" (debitismo) e "dinheiro completo" (especialmente sob a forma de moeda com cobertura de ouro) [...]. O que todos têm em comum é que não vêem o trabalho como fonte do valor nem o dinheiro como uma expressão de condições sociais distorcidas, mas associam o bem-estar a noções idealizadas de dinheiro, enquanto que as verdadeiras desgraças e a própria frustração são atribuídas às propriedades materiais do dinheiro 'errado' de hoje" (Hüller 2015, 308). O efeito do dinheiro regional seria "redireccionar a procura de fornecedores distantes para fornecedores locais. Uma introdução geral do dinheiro local (como exigem algumas facções dos 'críticos do dinheiro') equivaleria, portanto, a uma reviravolta no processo de socialização, que sempre foi um anseio secreto de muitos pequeno-burgueses sitiados pelo capitalismo" (ibid., 311, ênfase TM).

É precisamente este efeito que economistas pós-crescimento como Niko Paech esperam das moedas regionais. Poderiam "apoiar a desconcentração espacial" (Paech 2019, 117). O problema é visto nas interdependências globais, uma vez que se tornaram pronunciadas no decurso da chamada globalização e formaram de facto "contextos loucos de produção e distribuição", mas não na lógica capitalista de valorização, que também é evidente no regional. Para Paech, por outro lado, "[moedas regionais] podem vincular o poder de compra à região e assim apagar as dependências globais (!). Deste modo as vantagens de uma divisão do trabalho baseada no dinheiro seriam ainda (!) utilizadas, mas moderadamente (!) e dentro de um quadro desglobalizado, consequentemente mais resistente a crises (!) e mais responsável" (Paech 2014, 242).

É necessário considerar o que seria uma "reviravolta do processo de socialização", ou seja, uma "redução estrutural" das relações de produção capitalistas sem as abolir. Um regresso ao campo, como praticado na Grécia, só é viável como "solução de crise de emergência" para um pequeno número de pessoas, em contraste com a maioria dos habitantes das cidades. Um regresso à terra, um small is beautifull, (5) uma "redução do grau de abastecimento externo (!)" (Paech 2019, 113) levaria à miséria e possivelmente à fome de milhões. Face à(s) próxima(s) crise(s), a economia pós-crescimento pode revelar-se uma forma brutal de 'administração da crise'.

Certamente, tendo em conta as cadeias de distribuição capitalistas por vezes completamente absurdas, faz sentido fazer várias coisas localmente. Mas há muitas coisas que só podem ser o resultado de uma complexa 'divisão de trabalho' ou de uma 'divisão material-técnica de funções e de organização' que não poderia ser feita localmente em nenhuma circunstância (tais como o equipamento técnico para cuidados médicos, a produção de medicamentos e a produção de células solares etc., para não mencionar as infra-estruturas: abastecimento de água, esgotos etc.). Então a questão crucial não é "local ou global", mas como chegar a um modo de produção em que a produção e a distribuição sejam planeadas e realizadas por todos os membros da sociedade, sem que se interponha entre as pessoas um meio fetichista a que elas são depois sujeitas? Isto deve logicamente andar de mãos dadas com a compatibilidade ecológica. Nas palavras de Robert Kurz: "Autonomia não significa fazer tudo por conta própria e constringir a reprodução num obtuso ethos comunitário. Autonomia significa justamente o contrário, ou seja, que as relações sócio-económicas não se submetem mais a uma relação coerciva externa, irracional e fetichista, mas repousam numa comunicação livre e consciente, que permite ao indivíduo a teimosia e possibilidades de desenvolvimento ou de recolhimento. Portanto, cabe ocupar um terreno social da autonomia nesta acepção, que só pode viver se não se isolar regressivamente, mas travar múltiplas e amplas relações, capazes de romper e superar (e não cimentar) as relações nacionais, religiosas e 'étnicas', que se transformaram em modelos de exclusão na história da modernização" (Kurz 1997, 78s.). Devido à ignorância desta "autonomia", não é portanto surpreendente que o movimento pós-crescimento também tenha audiência e reconhecimento nos círculos de direita ou de extrema-direita. (6)

 

5. Riqueza material versus riqueza abstracta – Sobre a crítica do crescimento

Contra o pano de fundo da "dupla natureza" da riqueza capitalistamente produzida, permanece pouco claro o que significa exactamente "mais", "menos", "crescer" ou "encolher". Com Ortlieb, em contraste com o movimento pós-crescimento, ter-se-ia assim de "assumir um duplo conceito de riqueza historicamente específico, como representado no duplo carácter da mercadoria e do trabalho" (cf. Ortlieb 2009, 23; cf. também Postone 2003, 287ss.). Assim, no capitalismo, o valor como forma dominante de riqueza opõe-se à riqueza material. Um erro fundamental do pensamento reside em colocar estas duas formas de riqueza como uma só, como é o caso do movimento pós-crescimento. Mas o que importa é a acumulação de valor, ou seja, a produção de mais-valia, isto é, a produção de riqueza abstracta, e não a produção de riqueza material, ou seja, real, mesmo que esta última "continue a ser indispensável como portadora de valor" (Ortlieb 2009, ibid.). Note-se que "a riqueza material na sociedade capitalista desenvolvida não é a mesma que nas sociedades não capitalistas, mas as formas em que aparece são, por sua vez, moldadas pela riqueza na forma do valor" (ibidem, 27). Como Marx já tinha delineado no "fragmento das máquinas" dos Grundrisse, estas duas formas de riqueza entram historicamente cada vez mais em contradição através da dinâmica capitalista de valorização. Marx descreveu esta dinâmica do capital como uma 'contradição em processo' que 'procura reduzir o tempo de trabalho a um mínimo, enquanto que por outro lado estabelece o tempo de trabalho como a única medida e fonte de riqueza' (Marx 1953, 593). Mas assim que "o trabalho na forma imediata deixar de ser a grande fonte de riqueza, o tempo de trabalho cessa e tem de deixar de ser a sua medida, e portanto o valor de troca (tem de deixar de ser a medida) do valor de uso" (ibidem). Através desta contradição em processo, é posta em marcha uma dinâmica que acabará por conduzir ao "colapso da produção baseada no valor de troca". (ibid.). O capitalismo caminha assim em direcção a um limite interno.

De acordo com o movimento pós-crescimento, o capitalismo encontra um limite externo na limitação dos recursos disponíveis. Um limite interno, ou seja, um limite que radica no movimento de valorização do próprio capital e não na limitação dos recursos, permanece por tematizar e aparentemente impensável no movimento pós-crescimento. Assim, continua a não ser claro quais são exactamente os mecanismos sociais que forçam o crescimento.

Embora a produção material esteja sempre a aumentar, isto não significa que o mesmo se aplique à produção e realização de valor ou de mais-valia. Como Ortlieb mostrou (cf. Ortlieb 2009; cf. também Kurz 1994, 1986), o valor de uma mercadoria individual diminui com o aumento da produtividade, de modo que uma mercadoria tende a objectivar menos trabalho. A massa total de valor diminui, se o valor decrescente por mercadoria não for sobrecompensado por um aumento da produção total de mercadorias, através de expansão dos mercados, redução dos custos fixos, aceleração do transporte, redução dos tempos de armazenamento, barateamento da mercadoria força de trabalho etc. Estes mecanismos de compensação, por seu lado, têm os seus limites e não podem ser esticados por toda a eternidade. Em qualquer caso, ao incluir o nível da teoria do valor, torna-se claro como a coerção ao crescimento material da valorização do valor é gerada dinamicamente (D-M-D'!).

O capital individual (isto é, as empresas privadas e estatais) realiza depois a quota do valor (mais-valia) criado pela sociedade como um todo, isto é, a massa de valor (mais-valia) que pode atrair para si próprio, através da concorrência, e de modo nenhum aquela quota que foi produzida dentro das suas próprias quatro paredes (cf. Marx 1953, 444s.). Na concorrência prevalece aquele que oferece mais barato, ou seja, aquele que reduz com mais sucesso os seus custos. Por outras palavras, prevalece na concorrência o capital que com mais sucesso mina a base da valorização, ou seja, a valorização da força de trabalho. Na senda da terceira revolução industrial, está a ser eliminada por racionalização absolutamente mais força de trabalho rentável do que podem ser criados novos sectores de trabalho intensivo. O capitalismo encontra-se assim numa crise fundamental de valorização. A expressão (não a causa!) disto é a expansão incomensurável do sector financeiro nas últimas décadas. O capitalismo financeiro pode atrasar a desvalorização através de cadeias de crédito e endividamento do Estado aparentemente intermináveis. Mas quando isto deixa de ter sucesso, quando o capitalismo já não consegue mobilizar a riqueza que produz de acordo com os seus próprios critérios, a produção é interrompida, as infra-estruturas são cortadas e encerradas. Se o valor (mais-valia) já não puder ser realizado através de uma venda bem sucedida, então a produção correspondente é ou ficou socialmente inválida, e as necessidades, que já não se podem expressar na procura de solventes, são nulas e inválidas. Por outras palavras, numa sociedade em crise, a produção e o consumo são de qualquer modo reduzidos devido à falta de viabilidade financeira e as áreas que ainda prometem potencial de valorização ou possibilidades de poupança são exploradas de forma ainda mais desenfreada. Daí que, no processo de diminuição da massa de valor, pode no entanto haver ainda maiores danos ambientais e ainda maiores desperdícios, como se não houvesse amanhã (pense-se, por exemplo, na destruição acelerada das florestas tropicais).

Assim, existe uma crise de crescimento da riqueza abstracta. Mas, embora a produção material e o consumo de energia não diminuam, o valor não cresce de todo no conjunto da sociedade, uma vez que está a diminuir a parte do trabalho gasta que pode ser utilizada rentavelmente de forma sustentada, sem prolongar a sua possibilidade de valorização através de crédito, ou seja, através da antecipação de mais-valia futura. A antecipação de mais-valia futura pode ser realizada através de uma valorização bem sucedida, ou seja, através da acumulação de força de trabalho aplicada e da venda bem sucedida de mercadorias correspondentes, como ainda aconteceu no fordismo. Se isto não acontecer, o capitalismo mantém o seu presente consumindo o seu futuro. Na sequência de choques de desvalorização, a economia encolhe de facto. Isto não tem nada a ver com o facto de as pessoas estarem agora conscientes de uma utilização mais económica e sustentável das matérias-primas etc., mas é o resultado de restrições de acordo com o critério de financiabilidade. O que não pode ser financiado, porque a sociedade como um todo não gastou trabalho suficiente de forma rentável, é encerrado. Porque nada disto é abordado, o movimento pós-crescimento é compatível com a administração repressiva da crise (o que é particularmente claro no caso do arqui-reaccionário "economista da saúde e do ambiente" Hans-Peter Studer, que quer abertamente encolher o sector médico por razões de custo (!), cf. Meyer 2021, 164s.)

 

6. A dialéctica natureza-sociedade

O processo de metabolismo com a natureza (que é também um processo de metabolismo da sociedade consigo mesma) tem como pressuposto, por um lado, o "florescimento" da natureza. Por outro lado, o processo de metabolismo é tecnicamente mediado. A tecnologia não é arbitrária, mas baseia-se numa certa "acessibilidade" da natureza (matérias-primas disponíveis e degradáveis, possibilidades tecnicamente exploráveis). A tecnologia serve para 'extrair' energia e uma 'transformação material apropriada' da natureza, o que implica algum tipo de 'intervenção' na natureza. A natureza não permanece "idêntica" a si mesma, mas a sua dinâmica teria de ser incluída no processo de metabolismo com a natureza. A natureza não só teria de ser "consumida", como também (re)produzida (agricultura sustentável, por exemplo). Cruciais aqui são os fluxos de material e de energia durante todo o processo de produção e distribuição, e como estes afectam a natureza (e como isto por sua vez afecta a (re)produção, por exemplo: Lixiviação do solo – Problemas de cultivo – Ameaça à alimentação). Os conhecimentos correspondentes e a sua aplicação devem ser claramente desenvolvidos contra a chamada condição de financiamento e contra a subjacente motivação de lucro do capital. Deve salientar-se aqui que o horizonte temporal necessário para tal deve ser fundamentalmente diferente de uma "forma de pensar capitalista" (números trimestrais etc.). Uma vez que o capital se esforça sempre por encurtar o tempo de produção, não tem claramente em conta o tempo de produção da natureza, como Marx já reconheceu com base na 'produção florestal': "O longo tempo de produção (que inclui uma quantidade relativamente pequena de tempo de trabalho), com a duração dos seus períodos de rotação, faz da produção florestal um desfavorável ramo de negócio privado e, portanto, um negócio capitalista que é essencialmente um negócio privado, mesmo que apareça o capitalista associado em vez do capitalista individual. O desenvolvimento da cultura e da indústria em geral tem-se mostrado desde tempos imemoriais tão activo na destruição das florestas que tudo o que fez para a sua preservação e produção é de uma dimensão completamente insignificante" (Marx 1975, 246s.; cf. também Saito 2016, 292ss.). É evidente que um ponto de vista empresarial é fundamentalmente incapaz de olhar para o "tempo de produção da natureza", uma vez que só está interessado nos "fluxos de dinheiro" correspondentes e nos "custos" do seu próprio capital. Se aspectos para além da própria perspectiva capitalista individual vierem a ser vistos, então geralmente é só depois, na sua maioria como tentativas disparatadas ou ineficazes do Estado para compensar danos ou intervir de forma reguladora (por exemplo, através de impostos ou de tecnologias end-of-pipe).

Uma dialéctica natureza-sociedade teria, portanto, de elaborar sobre "como nós, humanos, na nossa prática social, invadimos dominadoramente a natureza e, no entanto, somos simultaneamente abraçados por ela de uma forma viva" (Schmied-Kowarzik 2018, 115). Seria pois necessário mostrar quais os processos sociais e técnicos (de produção) que têm impacto, como e de que forma, e como este pode ser remediado. Assim, o processo de metabolismo com a natureza teria de ser "incluído na regulação consciente da produção da sociedade" (Saito 2016, 198), através de uma compreensão social de como lidar sensatamente com a natureza e com as suas matérias-primas. Isto aplica-se ainda mais às matérias primas que não voltam a crescer. O que exigiria "uma organização racional da sociedade. Razão significa, nesse aspecto, nada mais que uma reflexão sobre os nexos naturais na consciência e um comportamento correspondente na reconfiguração social da natureza que evite a exploração exaustiva e absurda e os efeitos colaterais destrutivos" (Kurz 2002). Mas isto não é apenas um problema quantitativo. O uso e consumo capitalista destrutivo da natureza não pode ser resolvido apenas fechando e abolindo. Propostas de alguns ecossocialistas (7) como Bruno Kern e Saral Sarkar (da Iniciativa Ecossocialismo) para se abandonar o "industrialismo" enquanto tal – em ligação com o movimento pós-crescimento – a fim de propagar o ecossocialismo a nível principalmente local são um pouco precipitadas (cf. Sarkar 2010; cf. também Kern 2019). Em contraste, seria preferível "revolucionar as próprias condições materiais de produção ao nível social global e tomar como objectivo as necessidades, bem como a preservação das bases naturais. Isto significa que não poderá haver mais desenvolvimento descontrolado segundo o critério geral e abstracto da chamada racionalidade da economia empresarial. Os diversos momentos da reprodução social devem ser considerados no contexto da lógica própria do respectivo conteúdo. Por exemplo, os cuidados médicos e a educação não podem ser organizados segundo o mesmo padrão da produção de máquinas de perfurar ou de rolamentos de esferas. [...] Mesmo dentro da própria indústria, tem de ser suplantada esta lógica do valor, que transforma as forças produtivas em forças destrutivas, enquanto vai desbastando domínios necessários à vida, por falta de 'rentabilidade'. Assim, a mobilidade não deve ser eliminada, ou reduzida ao nível de carroças puxadas por burros, mas sim, partindo da forma destrutiva do transporte automóvel individual, transformada numa rede qualitativamente nova de transportes públicos. Os 'excrementos da produção' (Marx) não podem continuar a ser espalhados na natureza, em vez de serem integrados num circuito industrial. E a 'cultura de combustão' capitalista não pode ser mantida, exigindo-se, pelo contrário, um uso diferente dos materiais energéticos fósseis. Finalmente, é preciso que os momentos da reprodução insusceptíveis de serem abrangidos pelo valor e pelo trabalho abstracto, que foram dissociados da sociedade oficial e historicamente delegados nas mulheres (trabalho doméstico, acompanhamento, cuidados etc.), sejam organizados de forma conscientemente social e descolados da sua fixação sexual. Esta ampla diversificação da produção industrial e dos serviços, segundo critérios puramente qualitativos, é algo diferente de um anti-industrialismo abstracto; mas exige a abolição da razão capitalista, da síntese através do valor e do cálculo económico empresarial daí resultante" (Kurz 2013, 29s.)

 

7. Observações finais

As "áreas problemáticas" aqui indicadas devem fazer parte do mínimo teórico de qualquer posição crítica do capitalismo. O desconforto ou sofrimento na ou com a modernidade não conduz necessariamente a uma crítica radical. Muitas vezes, aspectos individuais são destacados e declarados como sendo o problema central, e a 'alternativa' que se conclui a partir daí é frequentemente limitada a um alternativo mais do mesmo. Apesar de toda a urgência (alterações climáticas etc.) e da necessidade de resistir a todo o tipo de imposições, não se deve insistir em "entrar cega e estupidamente em acção" sem qualquer teoria séria, delineando alternativas aparentes pseudocríticas, evitando assim efectivamente a necessária crítica teórica e prática e, no pior dos casos, tornando-se parte de uma repressiva (auto-)administração da crise. Algumas pessoas são demasiado rápidas a posicionarem-se como já estando para lá do capitalismo, embora as suas supostas alternativas apenas recaiam em sucedâneos do mercado e do Estado. É preciso opor-se resolutamente à ânsia de se tornar prático e de considerar os remédios de emergência puramente imanentes como sendo o fim da linha, mesmo que se mostre que faz sentido usar a "margem de manobra realmente existente". É portanto necessário insistir na necessidade de uma crítica categorial no sentido de uma "totalidade concreta" (Scholz 2009). Com ela, será possível eliminar desde o início as pseudo-alternativas, que não levariam senão à (auto-)administração da crise e da miséria dos supérfluos (mesmo que seja em 'espaços alternativos' em que se é encorajado a 'moldar' autonomamente a própria heteronomia e a dos outros). A tarefa da esquerda ou das forças emancipatórias será portanto, ao contrário do mau hábito esquerdista, deixar de recusar uma crítica categorial. Mas isso não é de esperar daqueles esquerdistas que se afundam e azedam na sua "cena" (que fósseis ainda estão em parte pelo caminho é o que se pode ver na conferência anual do Museu Rosa Luxemburgo em Berlim).

 

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Notas

1. Este texto é um extracto revisto de: Meyer 2021/2022.

2. Isto não significa que seja errado ou inútil fazer greve em defesa do emprego e de condições de trabalho dignas e saudáveis e afins.

3. Por exemplo, um livro da Escola do Partido Karl Marx no Comité Central do Partido da Unidade Socialista da Alemanha declara: "A produção de mercadorias e a lei do valor não são resquícios da ordem social capitalista. Têm as suas próprias bases socio-económicas no modo de produção socialista. As relações mercadoria-dinheiro não actuam sobre a base das relações de produção socialistas, mas as relações mercadoria-dinheiro socialistas são imanentes às relações de produção dadas" (Ebert; Koch; Matho; Milke 1969, 145).

4. A acrescentar a isto seria a relação de dissociação de género, cf. Scholz 2011.

5. Como Rainer Fischbach salienta, não é de modo nenhum o caso que a produção local em pequena escala tenha de ser mais sustentável e que poupe mais recursos do que uma fábrica, cf. Fischbach 2016, 161ss.

6. Cf: Matteoni, Federica: Antikapitalistische Querfront – Em Italien prägen die Theoreme des Postwachstums die Fünf-Sterne Bewegung [Frente transversal anticapitalista – Na Itália, os teoremas do decrescimento moldam o Movimento Cinco Estrelas], jungle.world de 11.2.2016, bem como Bierl, Peter: Zurück zu den Wurzeln [Regresso às origens], jungle.world de 16.7.2020. O fascista AfD Björn Höcke (que publicou em revistas fascistas sob o pseudónimo Landolf Ladig mesmo antes de se tornar membro da AfD) também exprimiu repetidamente críticas ao "crescimento". Cf. também: https://andreaskemper.org/2021/08/18/hoecke-bleibt-ladig/.

7. O tema do ecossocialismo será tratado detalhadamente num texto na revista exit! nº 19 (Maio 2022).

 

 

Original “Kategoriale Kritik und die notwendige Frage nach Alternativen zum Kapitalismus” in: www.exit-online.org, 05.04.2022. Publicado pela primeira vez em: Netztelegramm Fevereiro 2022, www.oekumenisches-netz.de. Tradução de Boaventura Antunes

 

 

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