Debate livre para cidadãos livres?

Notas sobre a cultura do cancelamento e as críticas a ela dirigidas

 

Thomas Meyer

 

"Cultura do Cancelamento [...] é uma expressão na moda do político, que se refere a esforços sistemáticos para com parcialidade excluir socialmente pessoas ou organizações acusadas de declarações ou acções ofensivas, discriminatórias, racistas, anti-semitas, de ideologias da conspiração, belicistas, misóginas, de desprezo pelas mulheres ou homofóbicas" (Wikipedia). Muitos vêem agora a liberdade de expressão e a diversidade ameaçadas pela cultura do cancelamento. Clássicos liberais como Voltaire e John Stuart Mill são frequentemente invocados. Aponta-se para a importância de se poder ouvir e tomar conhecimento de vozes dissidentes (sem pluralidade de opiniões não haveria progresso no conhecimento), bem como para o perigo da censura e do ostracismo na sociedade civil (boicote, banimento de um site...).

Como aponta a antologia "Cultura do Cancelamento e Liberdade de Expressão – Sobre Censura e Autocensura" (1) os críticos também se queixam de que a cultura do cancelamento impede o discurso científico livre. A cultura do cancelamento age emocionalmente. Funciona no modus de argumentum ad hominem. Vai contra 'erros' de pessoas individuais. O objectivo não é a verdade, mas a destruição moral ou profissional de figuras públicas que expressaram uma 'opinião errada'. O adversário não é refutado, mas cancelado, ou seja, a pessoa é demitida, forçada a renunciar, torna-se uma não-pessoa. O discurso é interrompido.

Um problema fundamental da cultura do cancelamento é a sua tendência para "equiparar a expressão verbal à violência física" (p. 64). Isto favorece o "pensamento censório" (ibid.) e conduz a um "culto da vulnerabilidade" (p. 24). Declarações comparativamente inofensivas são objecto de escândalo (a chamada micro-agressão). Com base em declarações isoladas, são tiradas conclusões sobre a "atitude" pela qual o acusado é dado como culpado. Decisivas para o julgamento são a preocupação e a pertença a um determinado grupo e não uma argumentação imparcial. Está a surgir uma cultura de protesto agressiva, cujo argumento central é ser ofendido. Se certas pessoas ou grupos se sentem ofendidos, sentem-se vítimas do lado certo. Ser ofendido é usado como justificação e motivo (especialmente nas 'redes sociais') para agitação militante. Isto vai desde o impedimento de eventos (ou seja, a restrição da liberdade de expressão e de ensino) até ameaças de morte (por exemplo, contra J. K. Rowling, por ela ser de opinião de que as mulheres trans não são mulheres 'autênticas'). Até agora, nenhuma representante do 'TERF' (Trans-Exclusionary Radical Feminism) foi decapitada por insulto, transfobia ou algo semelhante (ao contrário de pessoas que 'insultaram' o Islão, como o professor francês Samuel Paty em 2021). Os livros de Rowling, no entanto, já foram queimados (2) (aliás, também por fanáticos cristãos) (3). Tais acontecimentos são tomados como argumento de que a 'cultura do cancelamento' (ou o que é considerado como tal) constitui um perigo para a democracia. As consequências são a (auto)censura e um estreitamento do espaço do discurso. É criado um "clima de medo" (p. 57). Também se criticam as purgas do cânone educacional clássico nas escolas, na arte, nos museus etc. Pode-se resumir esta crítica da cultura do cancelamento dizendo que os agitadores da cultura do cancelamento são completamente autoritários e hipócritas, mas adornam-se com a auréola do progressista e avançado.

Segundo Stefan Laurin, a cultura do cancelamento tem a sua origem no pós-modernismo, "que por sua vez tem as suas raízes tanto na linguística como na rejeição da democracia, do iluminismo e da economia de mercado" (p. 175). (4) Nos Estados Unidos em particular, pode notar-se, com Helen Pluckrose & James Lindsay, (5) que os agitadores da política de identidade, ao contrário dos teóricos pós-modernos clássicos (como Michel Foucault), defendem uma pretensão absoluta de verdade (teoria queer, 'teoria crítica da raça', estudos sobre deficiência, estudos sobre obesidade etc.). (6) De acordo com Pluckrose e Lindsay, dificilmente é possível discordar sem se ser rapidamente ‘classificado’ em algum lugar. A regra é: quem não é por nós, é contra nós. A investigação e discussão abertas não são possíveis desta maneira. Ambos os autores sublinham também a ineficácia das pretensões de absolutização e das práticas de correcção da linguagem e identitárias assim moralizadoras. O foco da crítica não são as condições reais, mas a linguagem e o reconhecimento (ou a fixação em termos de política de identidade) de numerosas ‘diferenças’ do ‘normal’. (7)

De facto, é um problema quando as diferenças de conteúdo não são resolvidas através de um 'discurso sóbrio', mas todos começam uma ‘tempestade de merda’ a partir da sua bolha de filtragem (se ainda são capazes de receber ou compreender conteúdos vindos de fora da sua própria bolha de agitação). A incapacidade de lidar com conteúdos ou com outras posições fora do grupo de pares ou da bolha de filtragem é característica dos sujeitos autoritários e narcisistas. (8) Se não se partilha uma ou outra premissa de certas práticas ou teorias políticas de identidade, isto não indica necessariamente um ponto de vista reaccionário (por exemplo, não se é imediatamente um imperialista ocidental ou um racista com olhar 'colonialista' por rejeitar certos aspectos das culturas não ocidentais como autoritários ou reaccionários, ou por criticar o anti-semitismo islamista). (9) Embora o pós-modernismo se tenha pronunciado contra o pensamento essencialista e binário, ele cai precisamente nestas águas, onde opera identitariamente. Terry Eagleton acusou assim o pós-modernismo de não aplicar os seus métodos a si próprio.

As mencionadas críticas à cultura do cancelamento e às pretensões de absolutização das "teorias cínicas" (10) pós-modernas, bem como aos seus agitadores, têm certamente os seus momentos verdadeiros e justificados. Contudo, uma crítica do pensamento pós-moderno e dos seus derivados identitários continua a ser altamente insuficiente face a crescentes movimentos e agitações de direita ou fascistas, se esta crítica se mantiver num liberalismo do 'livre' discurso e do progresso do conhecimento através de uma argumentação sóbria. Portanto, esta crítica da cultura do cancelamento é problemática em vários aspectos: o primeiro diz respeito ao 'idealismo do discurso académico sem dominação'. O discurso livre nas universidades não é muitas vezes possível, mesmo sem a cultura do cancelamento. Afinal de contas, existe a hierarquia académica perfeitamente normal. Além disso, existe o próprio pensamento da bolha de filtragem académica, através da hiper-especialização e das condições de trabalho precárias. Estas últimas favorecem o comportamento conformista. Se não se entra na linha, o contrato não é renovado (ou o pedido de financiamento não é aprovado). O que geralmente está na ordem do dia não é um discurso aberto e livre de hierarquia, mas o de – lambe-botas. As proibições de exercer a profissão não são sequer necessárias na universidade empresarial… (11)

Sendo todas as ideias livremente discutidas, as teorias desmentidas não desaparecem. Pelo contrário. Um exemplo: Peter Singer, filósofo e activista dos direitos dos animais. Enquanto quer conceder o estatuto de pessoa a certos animais, nega simultaneamente o estatuto de pessoa a certos humanos. O que está em jogo é: 'vida indigna de ser vivida' – como na formulação de tempos passados. Hoje em dia, o direito à vida é negado àqueles que apenas custam e que, segundo Singer, melhor fora nunca terem nascido. As posições desumanas não desaparecem apenas por terem sido refutadas num discurso científico livre. As próprias relações capitalistas reproduzem ideologias social-darwinistas, que negam o direito de existir àqueles que (já) não são valorizáveis. No final, tais posições não permanecem apenas 'teoria cinzenta', mas tornam-se programa. (12) E por que há-de então ser uma expressão de carácter autoritário e de "hostilidade à democracia" quando se pretende, através de manifestações e agitação, impedir eventos por/com Peter Singer, que não reviu a sua posição desde os anos 80 até hoje?

Em segundo lugar, pode observar-se que bastantes pessoas obtiveram um impulso na carreira e aumentaram a notoriedade, como resultado de ‘tempestades de merda’ e cancelamentos (ou tentativas de cancelamento) (vem-me à ideia Thilo Sarrazin), ou seja, não desapareceram da esfera pública nem perderam os seus empregos. Mas então levantar-se e afirmar que o corredor de opinião está a ser estreitado ou algo semelhante não mostra outra coisa senão que se pretende excluir da esfera pública alegadamente livre aqueles que criticam posições racistas ou anti-semitas etc.. A cultura do cancelamento pode assim também ser classificada como um termo de luta de direita que é instrumentalizado para negar legitimidade aos movimentos políticos de pessoas marginalizadas e discriminadas. Este termo de luta destina-se a imunizar contra a crítica. Claro que assim ninguém é racista, anti-semita ou sexista de maneira nenhuma. (13) Nem a lumpenintelligentsia imperial. Deste ponto de vista, cada acusação é pura denúncia: a crítica de posições racistas não é crítica, mas sim uma ‘tempestade de merda’ e uma supressão da liberdade de expressão (embora estas opiniões sejam ao mesmo tempo promovidas pelos grandes media e as 'vítimas da gente bem de esquerda' sejam convidadas para mil talk shows). A crítica da linguagem discriminatória não é uma crítica da desvalorização linguística de certas pessoas ou grupos de pessoas (pense-se aqui na desvalorização e no assédio sem fim dos desempregados!) (14), antes não passa de um inadmissível paternalismo de 'cidadãos livres'. As pessoas privilegiadas (15) sentem que lhes estão a 'pisar os calos' quando os canais oficiais de crítica não são respeitados ou têm vento pela proa (que tempos em que a hostilidade sexista e homofóbica podia ser expressa sem que os afectados tivessem a oportunidade de reclamar!) (16) Assim, a crítica torna-se 'censura'. Se Friedrich Merz considera a cultura do cancelamento como a "maior ameaça à liberdade de opinião", não é propriamente difícil adivinhar o que irá provavelmente invocar na próxima campanha eleitoral, para evitar críticas contra si próprio e contra as suas posições reaccionárias. Merz instrumentaliza assim a 'cultura do cancelamento' a fim de deslegitimar e denunciar à partida os seus opositores políticos. (17)

É preciso ver que o discurso público se tem deslocado cada vez mais para a direita nos últimos anos. Os chamados "quebradores de tabus" têm desempenhado um papel importante neste contexto. (18) O objectivo dos de direita era mudar os 'limites do que pode ser dito'. O que foi obviamente bem sucedido. O combate ao extremismo do centro é perfeitamente justificado e necessário (quem vê isto de forma diferente é possivelmente parte do problema). A repetida exigência de 'falar com a direita' porque isso é exigido pela liberdade de expressão pode ser interpretada como um desejo inconsciente de deixar a direita dizer o que secretamente não se ousou dizer. (19) A crítica liberal da cultura do cancelamento sofre assim do facto de que a liberdade de opinião – a liberdade de opiniões – é concebida formalmente e é por regra despolitizada. Não se quer admitir que existem lutas e antagonismos sociais, que não podem ser eliminados trocando argumentos na audiência. Escamoteia-se a ligação de certas posições com uma dinâmica social (de crise) que promove pontos de vista desumanos. Em vez disso, todas as opiniões são equiparadas (tirando naturalmente as opiniões que são contra a lei, como a negação do Holocausto). Um discurso científico e democrático supostamente livre e neutro, ou seja, uma livre troca de argumentos, é suposto abrir caminho para a verdade. É claro que isso se baseia num entendimento positivista da ciência, que não faz distinção entre uma ordem natural, que seria o que é mesmo sem intervenção humana (por exemplo, o movimento dos planetas), e uma ordem social objectivada, que é historicamente contingente, ou seja, que só surgiu através da própria acção humana. O pensamento positivista só pode reproduzir a realidade, mas não a pode criticar como uma realidade falsa ou alienada. Permite que "a realidade existente apareça como a única realidade possível e historicamente necessária". (20)

As relações dominantes não são 'analisadas' nada sobriamente pelos críticos da cultura do cancelamento. Pelo contrário, são cegamente assumidas, sendo as suas consequências catastróficas para os seres humanos e para a natureza banalizadas, distorcidas, naturalizadas ou negadas por completo. Que a crítica da cultura do cancelamento permanece apenas uma crítica burguesa, ou seja, uma crítica que não consegue estabelecer uma ligação à jaula capitalista da servidão, é o que mostra, por exemplo, o publicista (e editor da Novo) Kolja Zydattis, quando ele documenta o seguinte evento de cultura do cancelamento de 2017: "Uma palestra planeada pelo Presidente Federal da União da Polícia Alemã, Rainer Wendt, na Universidade Goethe em Frankfurt am Main sobre o tema 'O quotidiano policial na sociedade da imigração' é cancelada. Anteriormente, grupos de esquerda tinham-se mobilizado contra o evento. Uma carta aberta de 60 académicos da Universidade Goethe e de outras universidades alemãs exigia também que Wendt não fosse autorizado a falar. O chefe do sindicato da polícia reforçaria as 'estruturas do pensamento racistas' e posicionar-se-ia 'longe de um discurso esclarecido'. Wendt tinha dito, em referência à abertura das fronteiras por Merkel para os refugiados em 2015, que a Alemanha ‘não era um Estado de direito’ e tinha afirmado que os polícias na Alemanha não fariam o chamado perfilamento racial". (21)

Pretende-se assim que posições que promovem o isolacionismo, vêem os refugiados como factores perturbadores e riscos de segurança, e banalizam a violência policial racista sejam ainda discutidas 'com espírito aberto'. A exigência de uma discussão aberta ignora o facto de os 'resultados' estarem neste caso há muito disponíveis. (22) Não tem de se discutir qualquer merda, especialmente quando é claro que o que se pretende discutir se destina a deslocar o discurso e a opinião pública para a direita (23) e a crítica é, de qualquer modo, descartada como intolerância de esquerda sem fundamento. Do lado da esquerda ou mais à esquerda, pode certamente notar-se que tal agitação é insuficiente e a referência a "discursos esclarecidos" soa à partida algo ingénua. No entanto, uma crítica mais abrangente que vá além disso, que aborde as causas da fuga (24) e as coloque no contexto da crise do capitalismo, não ocorreria aos críticos liberais da cultura do cancelamento nem em sonhos. Nenhum crítico da cultura do cancelamento pensaria em chamar cultura do cancelamento ao encerramento de hospitais, bibliotecas e piscinas por 'razões da economia empresarial' (ou a todo o tipo de políticas de austeridade do FMI e reformas de ajustamento estrutural etc.). Se as pessoas não conseguirem vender com sucesso a sua força de trabalho para participar no processo de valorização do capital, se por isso forem apenas 'lixo social' e um 'risco de segurança' para a alegada 'sociedade aberta', a sua existência é cancelada em termos reais, podendo elas discutir livre e abertamente opiniões diferentes tanto quanto quiserem... Pelo contrário: o espaço de livre opinião e discussão não pode ser tão amplo quando nos atrevemos a questionar o sagrado capitalismo? Tomar a liberdade de criticar e assinalar os limites e constrangimentos da liberdade burguesa (25) seria certamente para alguns um 'abuso da liberdade' pelos 'inimigos da liberdade', especialmente se essa crítica não se limitasse, de facto, à linguagem e ao argumentum ad hominem, mas avançasse para a sua realização. A hipocrisia dos críticos burgueses da cultura do cancelamento reside precisamente no facto de o próprio público burguês não ser capaz ou não estar disposto a argumentar de forma neutra e com mente aberta, por exemplo, quando se fala de expropriação (em detrimento e não em benefício do capital) (26), ou quando a palavra comunismo é sequer pronunciada, ou seja, quando o capitalismo começa a ser considerado por alguns como o problema fundamental! Aqui não se invoca Voltaire nenhum.... Vem rapidamente uma agressiva ‘tempestade de merda’ da ralé liberal do Twitter (naturalmente mais uma vez é apenas por acaso que na sua maioria são homens). (27) O ideal burguês de um debate aberto é envergonhado pela realidade da sua tacanhez burguesa!

O vazio e a falta de sentido do monstruoso fim-em-si capitalista (D-M-D') encontra expressão no vazio e na inconsistência das posições com carga identitária ('caminho livre para cidadãos livres' ou similares). Precisamente quando as identidades caem em crise porque os seus fundamentos sociais se rompem é que são defendidas de forma ainda mais feroz. A sua decadência ou obsolescência é atribuída a uma 'ameaça externa' (de esquerdistas, políticos, migrantes, feministas, 'lobby gay' etc.). A insistência na correcção formal de uma discussão 'livre de dominação' acaba por levar a que o que pode ser pronunciado 'livre de dominação' e 'democrático' – o que deve ser considerado 'normal' – seja deslocado mais para a direita. Isto não torna errada toda a crítica burguesa da cultura do cancelamento (como quaisquer purgas disparatadas de artefactos históricos ou preocupadas ‘tempestades de merda’ em vez de discussão), mas ela teria de crescer para além da sua tacanhez burguesa, se quisesse dar uma contribuição para a crítica da ideologia, contra a brutalização geral. No entanto, a crítica burguesa da cultura do cancelamento, com o seu liberalismo idealizado e a sua adesão à metafísica real capitalista (por vezes resumida como 'senso comum'), torna-a mais compatível com posições de direita ou, como se diz no jargão popular, com elas conectável. Assim não é por acaso que alguns autores da Novo também escrevem para revistas como Achse des Guten ou Eigentümlich frei. De facto, o foco da crítica burguesa da cultura do cancelamento não é a crítica da cultura do cancelamento de direita: pense-se na "masculinidade política" (28), que se mobiliza agressivamente pelo patriarcado, e na agitação contra as Sextas-feiras pelo futuro. (29) A proibição dos estudos de género na Hungria ao que parece não contou como cultura do cancelamento para os críticos liberais/conservadores e de direita. (30) Pelo contrário, os estudos de género são considerados por muitos uma pseudociência que deveria ser abolida!

O decisivo na crítica é a questão do conteúdo e não a formalidade de um discurso dito livre da dominação. Se uma pessoa se move nas águas de querer discutir livre e abertamente opiniões de todo o mundo, se segue a crítica liberal da cultura do cancelamento atendo-se a um critério formal, a questão do contexto histórico e social das posições 'controversas' permanece sem resposta. Tal como permanecem por tematizar as coerções e estruturas de dominação que impedem (ou pelo menos dificultam muito) uma discussão aberta – por exemplo, sobre a possibilidade de um modo de produção não capitalista. Mas é exactamente isso que está incondicionalmente na ordem do dia! (31)

 

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Notas:

1.    Sobre as exposições seguintes ver Sabine Beppler-Spahl (Hg.): Cancel Culture und Meinungsfreiheit - Über Zensur und Selbstzensur [Cultura do Cancelamento e Liberdade de Expressão – Sobre Censura e Autocensura], Frankfurt 2022.

2.    Ver: https://www.fr.de/panorama/jk-rowling-neues-buch-boeses-blut-vorwurf-transphobie-harry-potter-autorin-90045507.html 

3.    Por exemplo, na Polónia: https://www.spiegel.de/kultur/gesellschaft/harry-potter-polnische-priester-verbrennen-buecher-von-j-k-rowling-a-1260746.html 

4.    Stefan Laurin: Ein Angriff auf die Aufklärung [Um ataque ao iluminismo], in: Sabine Beppler-Spahl (Hg.): Cancel Culture und Meinungsfreiheit - Über Zensur und Selbstzensur [Cultura do cancelamento e liberdade de expressão - Sobre censura e autocensura], Frankfurt 2022, 175-190.

5.    Helen Pluckrose, James Lindsay: Zynische Theorien - Wie aktivistische Wissenschaft Race, Gender und Identität über alles stellt - und warum das niemandem nützt, München 2022; Original Cynical Theories: How Activist Scholarship Made Everything about Race, Gender, and Identity - and Why This Harms Everybody, 2020 Durham NC.

6.    Tendências autoritárias também têm sido notadas na cena queer alemã, como é bem conhecido: Patsy L'Amour Lalove (Hg.): Beißreflexe - Kritik an queerem Aktivismus, autoritären Sehnsüchten [Reflexões mordazes - Crítica ao activismo queer, a anseios autoritários], Sprechverboten, Berlin 2017. A situação não é melhor na cena anti-racista: Vojin Sasa Vukadinovic (Hg.): Freiheit ist keine Metapher - Antisemitismus, Migration, Rassismus, Religionskritik [A liberdade não é uma metáfora - Anti-semitismo, migração, racismo, crítica da religião], Berlin 2018.

7.    Para a crítica do pós-modernismo ver: Terry Eagleton: Die Illusionen der Postmoderne, Stuttgart/Weimar 1997, original The Illusions of Postmodernism, Oxford 1996, bem como Robert Kurz: Die Welt als Wille und Design: Postmoderne, Lifestyle-Linke und die Ästhetisierung der Krise [O mundo como vontade e design. Pós-modernidade, esquerda chique e a estetização da crise], Berlin 1999, e: Der Kampf um die Wahrheit - Anmerkungen zum postmodernen Relativismusgebot in der gesellschaftskritischen Theorie, in: exit! - Krise und Kritik der Warengesellschaft Nr. 12, Angermünde 2014, 53-76 [Trad. port.: A luta pela verdade. Notas sobre o mandamento pós-moderno de relativismo na teoria crítica da sociedade, http://www.obeco-online.org/rkurz411.htm].

8.    Ver Leni Wissen: Die sozialpsychische Matrix des bürgerlichen Subjekts in der Krise - Eine Lesart der Freud'schen Psychoanalyse aus wert-abspaltungskritischer Sicht, in: exit! - Krise und Kritik der Warengesellschaft Nr. 14, Berlin 2017, 29-49. Trad. port.: A matriz psicossocial do sujeito burguês na crise. Uma leitura da psicanálise de Freud do ponto de vista da crítica da dissociação-valor, http://www.obeco-online.org/leni_wissen.htm

9.    Ver Sama Maani: Respektverweigerung - Warum wir fremde Kulturen nicht respektieren sollten. Und die eigene auch nicht [Recusa de respeito - Porque não devemos respeitar as culturas estrangeiras. E a própria também não], Klagenfurt/Cleovec 2015.

10.                        Não podemos deter-nos mais em Pluckrose & Lindsay de seguida. 

11.                        Ver Gerhard Stapelfeldt: Der Aufbruch des konformistischen Geistes - Thesen zur Kritik der neoliberalen Universität [A emergência do espírito conformista – Teses para a crítica da universidade neoliberal], Hamburg 2011.

12.                        Ver Peter Bierl: Unmenschlichkeit als Programm [A desumanidade como programa], Berlin 2022, bem como Gerbert van Loenen: Das ist doch kein Leben mehr! - Warum aktive Sterbehilfe zu Fremdbestimmung führt [Isto já não é vida! - Por que a eutanásia activa leva à heteronomia], Frankfurt, 2. Aufl. 2015, zuerst Amsterdam 2009.

13.                        A revista satírica Titanic disse o que havia a dizer sobre essa negação e minimização do anti-semitismo alguns anos atrás https://shop.titanic-magazin.de/war-hitler-antisemit.html.

14.                        Ver Anna Mayr: Die Elenden - Warum unsere Gesellschaft Arbeitslose verachtet und sie dennoch braucht [Os miseráveis - Porque é que a nossa sociedade despreza os desempregados e no entanto precisa deles], Berlin, 3. Aufl. 2021. Como se fosse a coisa mais normal do mundo, também do lado da indústria cultural há diligente generalização e perseguição, ver Britta Steinwachs: Zwischen Pommesbude und Muskelbank - Die mediale Inszenierung der »Unterschicht« [Entre a loja de batatas fritas e a bancada de musculação - A encenação mediática da »classe baixa«], Münster 2015.

15.                        Como, por exemplo, Herfried Münkler: Ver Peter Nowak: Münkler-Watch - Neue Form studentischen Protestes? [Münkler de vigia - Nova forma de protesto estudantil?], Telepolis de 11.5.2015, https://www.heise.de/tp/news/Muenkler-Watch-Neue-Form-studentischen-Protestes-2639903.html. Ver também https://www.wsws.org/de/articles/2015/06/20/medi-j20.html 

16.                        Não é brincadeira: Jasper von Altenbockum (do FAZ), na antologia da Novo que aqui referi, escreve com toda a seriedade sobre a era Adenauer: "Mas a questão é se os costumes políticos não eram muito mais abertos, tolerantes, interessados, argumentativos na altura do que são hoje. Os debates sobre Thilo Sarrazin, Boris Palmer, Sahra Wagenknecht e Hans-Georg Maaßen mostram um tal grau de pudicícia política nos respectivos partidos e para além deles que mesmo a era Adenauer, que era verdadeiramente tensa e cheia de tabus noutros aspectos, parece um refúgio de liberdade" (p. 73s.). Que ridicularização das vítimas do regime Adenauer! (comunistas, opositores do rearmamento e do armamento, homossexuais etc.).

17.                       Ver Der Dunkle Parabelritter: Fritz Meinecke und die Cancel Culture Gefahr: https://www.youtube.com/watch?v=-Uzu9Whzd9g. 

18.                       Ver Annett Schulze, Thorsten Schäfer (Hg.): Zur Re-Biologisierung der Gesellschaft - Menschenfeindliche Konstruktionen im Ökologischen und im Sozialen [Sobre a rebiologização da sociedade - Construções misantrópicas no ecológico e no social], Aschaffenburg 2012.

19.                       Ver Christine Kirchhoff: Gefühlsbefreiung by proxy - Zur Aktualität des autoritären Charakters [Libertação emocional por procuração - Sobre a actualidade do carácter autoritário], in: Katrin Henkelmann, u. a. (Hg.): Konformistische Rebellen - Zur Aktualität des autoritären Charakters [Rebeldes conformistas - Sobre a actualidade do carácter autoritário], Berlin 2020, 213-230.

20.                        Miladin Zivotic: Proletarischer Humanismus - Studien über Mensch, Wert und Freiheit [Humanismo proletário - Estudos sobre o ser humano, o valor e a liberdade], München 1972, zuerst Beograd 1969, S. 39.

21.                        Kolja Zydatiss: Cancel Culture - Eine Begriffsbestimmung [Cultura do Cancelamento - Uma Definição], in: Sabine Beppler-Spahl (Hg.): Cancel Culture und Meinungsfreiheit - Über Zensur und Selbstzensur [Cultura do cancelamento e liberdade de expressão - Sobre censura e autocensura], Frankfurt 2022, 50-65, S. 53f.

22.                        Vgl. dazu: Herbert Böttcher: »Wir schaffen das!« - Mit Ausgrenzungsimperialismus und Ausnahmezustand gegen Flüchtlinge [“Nós conseguimos!” - Com imperialismo de exclusão e estado de excepção contra os refugiados], 2016, https://exit-online.org/textanz1.php?tabelle=autoren&index=20&posnr=554&backtext1=text1.php 

23.                        Sobre Rainer Wendt, ver https://amnesty-polizei.de/das-prinzip-rainer-wendt-ein-kommentar/ 

24.                        Ver Georg Auernheimer: Wie Flüchtlinge gemacht werden - Über Fluchtursachen und Fluchtverursacher [Como são feitos os refugiados - Sobre causas da fuga e causadores da fuga], Köln 2018.

25.                        Vgl. dazu z. B.: Leo Kofler: Zur Kritik bürgerlicher Freiheit - Ausgewählte politisch-philosophische Texte eines marxistischen Einzelgängers [Para a crítica da liberdade burguesa - Textos político-filosóficos selecionados de um marxista solitário], Hamburg 2000 bem como particularmente: Robert Kurz: Blutige Vernunft - Essays zur emanzipatorischen Kritik der kapitalistischen Moderne und ihrer westlichen Werte, Bad Honnef 2004 [Trad. port.: Razão sangrenta. Ensaios sobre a crítica emancipatória da modernidade capitalista e seus valores ocidentais, http://www.obeco-online.org/livro_razao_sangrenta.html].

26.                        Tomasz Konicz: »Genosse Kühnert [camarada Kühnert]«, Telepolis vom 12.9.2020, https://www.heise.de/tp/features/Genosse-Kuehnert-4892403.html 

27.                        Ver Der Fall Elisa Avesa - Das Gespenst des Kommunismus [O Caso de Elisa Avesa - O Espectro do Comunismo], Neues Deutschland vom 9.6.2022, https://www.nd-aktuell.de/artikel/1164402.der-fall-elissa-asesva-das-gespenst-des-kommunismus.html 

28.                        Ver Susanne Kaiser: Politische Männlichkeit - Wie Incels, Fundamentalisten und Autoritäre für das Patriarchat mobilmachen [Masculinidade Política - Como incels, fundamentalistas e autoritários se mobilizam pelo patriarcado], Frankfurt 2020.

29.                        Ver Enno Hinz, Lukas Paul Meya: Gegenwind für die Klimabewegung [Vento contrário para o movimento climático], akweb.de vom 12.11.2019 bzw. Analyse & Kritik Nr. 654.

30.                        Ver https://www.tagesspiegel.de/wissen/zwei-jahre-nach-dem-verbot-wie-geht-es-den-gender-studies-in-ungarn/26978612.html 

31.                        Ver Tomasz Konicz: Emanzipation in der Krise, https://www.konicz.info/2022/10/12/emanzipation-in-der-krise/. Trad. port.: Emancipação na crise, http://www.obeco-online.org/tomasz_konicz30.htm

 

 

Original “Freie Debatte für freie Bürger? Einige Anmerkungen zur Cancel Culture und der Kritik daran” em www.exit-online.org. Originalmente publicado em Graswurzelrevolution nº 475 (Janeiro/2023). Tradução de Boaventura Antunes

 

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