Thomas Meyer

 

"Aspectos do novo radicalismo de direita" e a democracia totalitária

 

A ascensão do populismo de direita nos últimos anos pede uma explicação. Tem sido salientado em vários pontos que os movimentos de direita dos últimos anos não caíram simplesmente do céu, mas devem ser vistos no contexto do neoliberalismo e das suas convulsões sociais das últimas décadas. Segundo Wilhelm Heitmeyer (ver Heitmeyer 2018), o autoritarismo, tal como é expresso e exigido pelos populistas ou radicais de direita, já está contido no neoliberalismo, que se apresenta sempre como sem alternativa. A erosão dos processos democráticos, a liquidação da rede social, a expansão do Estado policial, a insegurança social fundamental e a entrega directa do indivíduo aos imperativos de valorização do capital tornam claro o autoritarismo do regime neoliberal (ver também Wacquant 2013). Por último, mas não menos importante, a proporção da população que pode ser comprovada como tendo uma visão do mundo racista, etc., tem aumentado constantemente ao longo dos anos. Assim, sempre houve um alto potencial de "misantropia centrada no grupo" e não é de modo nenhum uma novidade dos últimos anos (Heitmeyer 2018).

As estratégias da direita visam "deslocar os limites do dizível". Sem dúvida, a "burguesia bruta" (Heitmeyer) também contribuiu para isso, como ficou claro, por exemplo, nas obras de Sloterdijk (cf. Kurz 2005, 387ss., 458ss., assim como Winkel 2010) e Sarrazin (cf. Lux 2012, assim como Konicz 2015a). Como escreve Heitmeyer, é "um facto que sob uma fina camada de maneiras civilizadas, gentis ('burguesas') se escondem atitudes autoritárias, que se tornam cada vez mais visíveis, geralmente na forma de uma retórica cada vez mais raivosa" (Heitmeyer 2018, 310). Este encobrimento tem sido continuamente quebrado nos últimos anos. Uma razão (não a causa!) foi a "crise do fecho de fronteiras" (David Goeßmann) do Outono de 2015, que revelou a "burguesia bruta" no debate sobre os refugiados, no qual até os chamados opositores da AfD incluíam argumentos ou "narrativas" de direita, que diferiam apenas ligeiramente ou nada das da AfD (cf. Goeßmann 2019). (1) Finalmente, os 'argumentos' de agitação racista foram retomados pelo mainstream: É a própria classe média burguesa que está à direita; ela dá origem ao "extremismo do centro" (Konicz 2016, 158ss.). Como Heitmeyer enfatiza, a própria normalidade é o problema: "É óbvio que o extremismo, com suas formas de comunicação e acção abertamente brutais, está inseparavelmente ligado à normalidade da vida social e política e só surge a partir dela. [...] O normal [portanto] não deve ser entendido como uma garantia de segurança, mas como potencialmente perigoso. [...] Por isso deve ser levantada a questão de como o destrutivo se desenvolve na normalidade (e não apenas contra ela)" (Heitmeyer 2018, 279, destaque no original).

Pode assim falar-se, com Heitmeyer, do facto de que é a normalidade burguesa que contém emm si o autoritarismo e reactualiza constantemente as atitudes autoritárias. Neste contexto, a Teoria Crítica e a sua investigação da personalidade autoritária ganham renovado interesse (Ziege 2019, 135ss.). Perante o sucesso eleitoral contínuo dos partidos populistas de direita e a força crescente dos movimentos de direita radical, também foi publicada pela primeira vez uma palestra pública feita por Adorno em 1967 sobre o radicalismo de direita. Nesta palestra, Adorno descreveu o que constitui os radicais de direita modernos e o que impulsiona e faz com que a agitação fascista tenha sucesso. Este pequeno livro "Aspectos do novo radicalismo de direita" fez um grande alvoroço, tendo sido discutido nos suplementos culturais burgueses e na rádio estatal. Foi enfatizado que os comentários de Adorno eram muito actuais e soavam como se Adorno já tivesse discutido a AfD. O pano de fundo da palestra foi o sucesso eleitoral do NPD naquela época. (2) Adorno destacou no texto da palestra, entre outras coisas, que o fascismo deve o seu sucesso principalmente ao facto de as suas causas ainda existirem. Adorno viu uma causa central da agitação fascista sobretudo na concentração do capital e na conexa desclassificação ou ameaça de desclassificação da pequena burguesia, etc. A queda iminente da classe média também foi "usada" para reivindicar a soberania nacional. Esta soberania nacional é tanto mais exigida quanto as suas condições objectivas já não existem. Adorno chegou a esta avaliação no contexto do confronto de blocos e da CEE (Comunidade Económica Europeia) (ver Adorno 2019a, 9-13). As semelhanças com o presente são óbvias: os radicais de direita e os populistas de direita de hoje também lutam pela recuperação da soberania nacional, (3) especialmente nas suas críticas à União Europeia. No entanto, as condições objectivas para a "soberania nacional" estão ainda menos presentes hoje do que nos anos 60, devido à transnacionalização do capital, sendo completamente ilusórias (ver Kurz 2005).

Embora a apresentação de Adorno seja elogiada pela sua validade analítica, também é de notar que as diferenças com os anos 60 devem ser notadas. Volker Weiß, que escreveu um posfácio, comenta: "Que valor têm estas análises para o presente? Antes de mais nada, as diferenças têm de ser tidas em conta. O aviso de Adorno contra a simples ligação do radicalismo de direita aos movimentos cíclicos da economia deve ser levado a sério. Os efeitos da recessão de 1966/67, como pano de fundo imediato da evolução descrita, não podem ser comparados nem com as consequências da crise económica mundial de 1929, nem com as da actual crise financeira e monetária. [...] As linhas políticas de frente também não são facilmente comparáveis. Ao contrário do anti-semitismo, no debate sobre o jihadismo global, elemento chave do populismo de direita, não se trata apenas de projecção patológica. O Islão político é um verdadeiro actor e ele próprio tem de ser visto como produto de uma humilhação narcisista colectiva. (ver Adorno 2019a, 74s.) (4)

Na verdade, uma teoria ou uma crítica deve ser sempre examinada no seu 'núcleo temporal', o que Adorno também enfatizou. Mas o que deveria constituir este núcleo permanece muito pouco claro no actual "debate sobre Adorno". Assim, a crise actual é percebida apenas de modo muito superficial. Não há entre os publicistas liberais como Volker Weiß quaisquer observações sobre teoria da acumulação ou teoria da crise. Portanto, em Weiß, as diferenças entre as crises dos anos 60 e as de 1929 e 2008ss. têm de ser adivinhadas mais do que são determinadas.

Adorno, de facto, aponta para o já então objectivo anacronismo do nacionalismo, mas apenas com Adorno não ficaria claro por que a soberania do Estado-nação como tal está hoje em erosão, por que a capacidade reguladora política do capital transnacionalizado está a atingir os seus limites, por que a democracia se está continuamente a des-democratizar (estado policial, acordo de livre comércio), por que os aparelhos estatais se estão a asselvajar (cf. Kurz 1993 assim como Scholz 2019 e Konicz 2018), por que cada vez mais Estados se estão a desintegrar (ver Kurz 2003, Bedszent 2014 e Konicz 2016). Neste aspecto, a celebrada actualidade da palestra é exagerada, até porque comentadores como Weiß estão longe de ser capazes de formular uma crítica de acordo com o tempo actual.

No caso de Weiß, também é claro que ele critica a nova direita sobretudo pelo seu anti-liberalismo. Ora esta crítica é justificada, mas um anti-liberalismo de direita também é alimentado por um certo "mal-estar na modernidade”. Em vez de fazer do mal-estar na modernidade, dos desaforos da modernização, da liberdade e igualdade burguesas o tema da discussão, Weiß comete o erro "de pensar que o mundo do mercado global estaria em ordem se os 'bárbaros' castanhos-fascistas (ou actualmente: verdes-islamistas) simplesmente não existissem" (Hanloser 2018, 167). Assim, não teria de ser rejeitado apenas um "anti-modernismo" de direita (que em si mesmo é muito moderno), mas também uma apologética burguesa da "liberdade e igualdade", sobretudo no contexto do Estado policial e do estado de excepção, que as democracias burguesas estão a forçar por si próprias (basta pensar nas novas leis policiais). O aviso de Adorno de que a sobrevivência do fascismo é mais perigosa na democracia do que contra ela, portanto, merece mais atenção. (5) Por outras palavras: o radicalismo de direita poderia hoje ser visto como uma ideologia de crise, como uma continuação da administração democrática da crise com outros e/ou com os mesmos meios. (6)

A ignorância da crise corresponde à reivindicação incondicional da democracia. Isto pode ser ligado a um aspecto problemático e anacrónico da palestra de Adorno. Assim Adorno apresenta a ideia de uma verdadeira democracia ainda a ser realizada: "Ouve-se com muita frequência, especialmente em relação a categorias como 'os eternamente incorrigíveis' e outras frases reconfortantes do mesmo tipo, a afirmação de que existe um certo sedimento de incorrigíveis ou de loucos, uma chamada franja lunática, como se diz na América, em cada democracia. E há uma certa consolação burguesa tranquilizante nisto, se assim se imaginar. Penso que só podemos responder que existe certamente algo deste tipo, que pode ser visto em diferentes graus em cada uma das chamadas democracias do mundo, mas apenas como expressão do facto de que, em termos do seu conteúdo, a democracia nunca tomou real e completamente forma em parte nenhuma, mas permaneceu formal. E os movimentos fascistas, neste sentido, poderiam ser descritos como estigmas, como cicatrizes de uma democracia que ainda não correspondeu plenamente ao seu próprio conceito" (Adorno 2019a, 17s.)

Hoje, porém, é completamente errado reivindicar ideais burgueses contra a realidade burguesa, sobretudo se olharmos mais de perto em que consistem esses ideais burgueses e qual é o quadro pressuposto em que eles (deveriam) ser realizados, especialmente em condições de crise. Marx já descreveu o perigo de ser cego por ideais burgueses. (7) Assim, nos Grundrisse, diz: "Por outro lado, evidencia-se igualmente a tolice dos socialistas (notadamente dos franceses, que querem provar que o socialismo é a realização das ideias da sociedade burguesa expressas pela Revolução Francesa), que demonstram que a troca, o valor de troca etc. são originalmente (no tempo) ou de acordo com o seu conceito (em sua forma adequada) um sistema da liberdade e igualdade de todos, mas que têm sido deturpados pelo dinheiro, pelo capital etc. […] O sistema do valor de troca ou, mais precisamente, o sistema monetário é de facto o sistema da igualdade e liberdade, e as perturbações que enfrenta no desenvolvimento ulterior do sistema são perturbações a ele imanentes, justamente a efectivação da liberdade e igualdade, que se patenteiam como desigualdade e ausência de liberdade. [...] O que distingue esses senhores dos apologistas burgueses é, por um lado, a sensibilidade às contradições que o sistema encerra; por outro, o utopismo de não compreender a diferença necessária entre a figura real e a figura ideal da sociedade burguesa e, consequentemente, pretender assumir o inútil empreendimento de querer realizar novamente a sua expressão ideal, expressão que de facto nada mais é do que a fotografia transfigurada e reflectida dessa mesma realidade." (Marx 1953, 916) [2011, 303/4].

Se, olhando para os tempos anteriores, podemos perceber condições ainda mais democráticas do que hoje, isto também tem a ver com o facto de a "capacidade de configuração" política ainda estar presente em tempos anteriores, em tempos de expansão fordista, quando as reformas ainda abriam, de facto, a possibilidade de progresso social, e o âmbito da acção política era muito maior. No entanto, quando estes encolhem, sobretudo no contexto de uma crise das finanças públicas, a democracia também perde a sua "capacidade de configuração" (ver Konicz 2016, 180ss.). Portanto, se a valorização encontra limites, a democracia também sofre erosão. Em contraste, hoje em dia, muitas pessoas reivindicam uma 'verdadeira democracia', (8) sem realmente compreenderem a lógica da democracia: "A consciência dominante [...] não tem naturalmente a menor compreensão do carácter totalitário da própria democracia sagrada" (Kurz 1999, 574). Pois mesmo a antiga "capacidade de configuração" da democracia estava sempre sujeita a limites restritos: A subjugação dos sujeitos aos imperativos de valorização do capital é pressuposta pelo discurso democrático e como tal não negociável. Toda a acção democrática tem de mover-se dentro deste quadro. O "pensamento democrático de qualquer cor nunca por si mesmo [chega] à ideia de querer mobilizar e organizar os recursos e a riqueza social de forma diferente da forma da mercadoria ou do dinheiro; e de que a sua suposta liberdade e humanidade estabelece assim sempre inconscientemente o limite do sistema da própria forma moderna da mercadoria como um limite rígido" (Kurz 1993, 18). Além disso, "a liberdade abstracta dos indivíduos abstractos monadizados, que têm sempre de se 'autovalorizar', implica a concorrência impiedosa de todos contra todos". E: "a verdadeira capacidade de agir como livre e igual [está] limitada à capacidade de pagamento" (ibid., itálico nosso).

Se isto é posto em causa na prática, mesmo que apenas rudimentar e selectivamente, os cães de fila alinham-se e a democracia revela o seu núcleo repressivo. Esta é a democracia realizada e, portanto, não é apenas uma democracia formal, ou formalmente limitada, que simplesmente ainda não se realizou. A sua realização consiste precisamente em conceder formalmente direitos, mas também em suspendê-los ou restringi-los novamente, se se revelarem disfuncionais para a administração da crise e para a valorização (ou desvalorização) do capital. Portanto, o terror do Estado policial não é uma contradição com a democracia. Dado que uma pessoa só se pode realizar como livre e igual se provar ser um sujeito produtivo de capital, a democracia realizada também é compatível com enormes desigualdades sociais. O oposto da liberdade e as suas contradições pertencem assim a essa liberdade em si, como Marx já enfatizava. Surpreendentemente, isto também nem sequer é negado. Friedrich August von Hayek, por exemplo, formulou que a liberdade inclui "passar fome", e até mesmo que "a conformidade voluntária é uma condição para os efeitos benéficos da liberdade". Consequentemente, segundo Hayek, uma "democracia [...] pode exercer violência totalitária, e é concebível que um governo autoritário possa agir de acordo com princípios liberais" (Hayek 1960, 25, 82, 132). Saudações liberais a Pinochet!

Quando há uma crise, os protestos sociais e qualquer contradição podem revelar-se "perturbadores". Não é por acaso que durante a crise grega se falou que a austeridade da Alemanha não deveria ser negociada democraticamente (Konicz 2015b). Não é coincidência que Merkel tenha dito que a democracia tem de estar "em sintonia com o mercado". Se o "mercado" já não permite opções de decisão imanentes, então todas as decisões equivalerão a "poupar e morrer", e a liberdade democrática consistirá em nada mais do que ajudar a configurar a própria execução por decreto e parlamento.

Numa democracia, a capacidade jurídica está ligada à capacidade de valorização. Se os contratos de trabalho já não podem ser celebrados, o próprio direito se desfaz (cf. Kurz 2003, 324s.) As pessoas que perdem a capacidade de valorização, com a desvalorização da sua força de trabalho ou similares, tornam-se de facto cidadãos de direito inferior, como prova o regime Hartz IV (cf. Rentschler 2004). A pessoas cuja desvalorização progrediu ainda mais, como os refugiados, acaba por ser-lhes negado o mero direito à vida, ou por ser aceite a sua morte. Isto é demonstrado não só pela política isolacionista do "Ocidente livre e democrático", e pela continuação das mortes no Mediterrâneo, mas também pelo ‘depósito’ mais ou menos ‘final’ de pessoas em instalações semelhantes a campos de concentração, nos chamados "campos de acolhimento". O mais sujo trabalho de porcos é deixado de bom grado a outros. (9)

Uma vez que a democracia como forma de Estado está vinculada à forma de valor e dissociação e, portanto, entra em erosão na crise da valorização, não faz sentido lamentar a perda da democracia, nem reclamar da realização de uma democracia "real". Portanto, de modo nenhum seria suficiente acusar a democracia de ser meramente formal para exigir que ela seja finalmente realizada: talvez através de mais "democracia directa", como os populistas de direita também exigem. Por isso não basta criticar a participação ou representação insuficiente ou a distribuição desigual da riqueza. O objecto da crítica tem de ser antes a forma do interesse e da vontade do sujeito burguês e, portanto, a forma capitalista de riqueza e de (re)produção em si. Terá de ficar claro que a democracia não é um discurso livre, não é uma "associação de pessoas livres" (Marx), na qual todos têm de se pôr de acordo sobre o uso sensato dos recursos. Pelo contrário: este não é o tema do discurso democrático, não é o tema do discurso de uma economia de comando autoritária nem de um regime étnico nacional. A submissão à constituição fetichista da sociedade da dissociação-valor, à forma da mercadoria e ao movimento de valorização do capital é precisamente a base de toda a democracia. Esta falsa contraposição, repetidamente surgida, de democratas liberais a uma burguesia autoritária, bruta e até fascista, deve, portanto, ser rejeitada. (10) Se, como pensava Marx, a verdade da sociedade burguesa deve ser vista nas suas colónias, (11) também a verdade da democracia real deve ser vista na crise e no estado de excepção. Uma teoria crítica actual tem de tomar nota disto ou não é teoria crítica nenhuma.

 

 

Bibliografia

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Notas

(1) Isto é demonstrado, por exemplo, pelas mudanças no discurso no decorrer do fim da "cultura de acolhimento", cf. Jäger; Wamper 2017.

(2) O NPD então falhou por pouco sua entrada no Bundestag em 1969. A consequência foi uma 'mudança de estratégia' de partes da direita, que 'modernizou' a direita, ver Weiß 2018, 27ss., assim como Feit 1987, 23ss.

(3) Não é por acaso que a revista de extrema direita de Jürgen Elsässer tem o subtítulo "Magazin für Souveränität".

(4) Volker Weiß salienta as semelhanças entre o radicalismo de direita e o islamismo. Por exemplo, a relação entre os dois é evidente na misoginia e na mania da masculinidade. A mania neofascista da masculinidade é exemplificada no livro de Jack Donovan "Der Weg der Männer" ("O Caminho dos Homens"), publicado pela editora da direita radical Antaios-Verlag, cf. Weiß 2018, 227ss. Jack Donovan também poderia, em princípio, juntar-se ao IS, como observou Weiß: por exemplo, na entrevista "Tacheles: Volker Weiß sobre actores, ideologia e desenvolvimento da Nova Direita", https://www.youtube.com/watch?v=5xtMdgVayOw, 7:50 min.

(5) Assim, na palestra de Adorno, de 1959: O que significa rever o passado, a partir de cerca de 3 min: https://www.youtube.com/watch?v=ioj9UPuP374.

(6) A continuidade de ambos é particularmente evidente no imperialismo de exclusão racista e na construção democrática de muros, ver Kurz 2003, especialmente 190ss. e Trenkle 1993.

(7) Vale a pena mencionar neste contexto que, em sua polémica contra Karl Kautsky, Lenin referiu-se à hipocrisia das democracias burguesas e mencionou o que hoje seria chamado de "estado de excepção". Diz: "Considerem-se as leis fundamentais dos Estados modernos, os métodos pelos quais são governados, a liberdade de reunião ou de imprensa, a 'igualdade dos cidadãos perante a lei' – e veremos a cada passo a hipocrisia da democracia burguesa bem conhecida de qualquer trabalhador honesto e com consciência de classe. Não há um único Estado, mesmo o mais democrático, onde não existam lacunas ou cláusulas na Constituição que garantam à burguesia a possibilidade de usar os militares contra os trabalhadores, de impor um estado de sítio, etc., "em caso de violação da lei e da ordem" – na realidade, quando a classe explorada "viola" a sua existência como escrava e tenta deixar de se comportar como tal. Kautsky embeleza sem vergonha a democracia burguesa ocultando, por exemplo, como os burgueses mais democráticos e republicanos da América ou da Suíça tomam medidas contra os trabalhadores em greve" (Lenine 1970, 87).

(8) Devido à discrepância óbvia entre "a pretensão e a realidade da democracia", é claro, cada vez menos pessoas acreditam na propaganda democrática ocidental. Em vários pontos fala-se de "pós-democracia", "democracia de fachada", "oligarquia (financeira)", etc.; termos que supostamente capturam a realidade democrática. Estas críticas, porém, permanecem fenomenológicas, não vão além de uma "crítica ao neoliberalismo", criticam a falta de "representação", a insuficiente "democracia directa", o "Estado dentro do Estado" e apelam a um absurdo "sistema financeiro democrático", etc.

(9) Assim, no início de 2017, o Ministério dos Negócios Estrangeiros falou das condições semelhantes a campos de concentração na Líbia. O relatório afirma, entre outras coisas, que "execuções de migrantes não pagantes, tortura, violação, extorsão e abandonos no deserto estão na ordem do dia lá", ver https://www.welt.de/politik/deutschland/article161611324/Auswaertiges-Amt-kritisiert-KZ-aehnliche-Verhaeltnisse.html.

(10) Para não ser mal interpretado: É claro que democracia e fascismo não são simplesmente a mesma coisa, e não é simplesmente a mesma coisa se um social-democrata corrupto está no controle do poder ou um fascista do calibre de Bolsonaro. Seria, portanto, reacionário aceitar ou declarar irrelevante, por exemplo, a consolidação ou o desmantelamento da justiça burguesa com um encolher de ombros.

(11) Como diz o artigo de Marx The Future Results of British Rule in India, de 8.8.1853: "A profunda hipocrisia da civilização burguesa e a barbárie dela inseparáveis são reveladas assim que desviamos oo olhar da sua pátria, onde aparecem em formas respeitáveis, para as colónias, onde se mostram em toda sua nudez" em: Marx; Engels 1960, 225. Como essa barbárie era flagrante, mostrou, por exemplo, Mike Davis (Davis 2011).

 

Original »Aspekte des neuen Rechtsradikalismus« und die totalitäre Demokratie in: www.exit-online.org. Tradução de Boaventura Antunes

 

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